“Agora, então, meu filho, ouça-me; não se desvie das minhas palavras. Fique longe dessa mulher; não se aproxime da porta de sua casa, para que você não entregue aos outros o seu vigor nem a sua vida a algum homem cruel, para que estranhos não se fartem do seu trabalho e outros não se enriqueçam à custa do seu esforço. No final da vida você gemerá, com sua carne e seu corpo desgastados. Você dirá: ‘Como odiei a disciplina! Como o meu coração rejeitou a repreensão! Não ouvi os meus mestres nem escutei os que me ensinavam. Cheguei à beira da ruína completa, à vista de toda a comunidade’” (Pv 5.7-14).
Lembro-me com tristeza de uma visita que fiz certa vez a um asilo. Passei parte da tarde conversando com um velhinho amargurado que me contou sua história. Ele tinha uma linda família e uma empresa próspera, sendo um homem influente na sociedade e realmente feliz. Um dia, ele contratou uma secretária muito bonita e bem mais jovem que ele e se envolveu amorosamente com ela. Abandonou a família e praticamente passou a ignorar sua empresa. A esposa pediu o divórcio e ele teve de se desfazer da empresa. Durante algum tempo, ele viveu achando que havia encontrado a felicidade, até o dia em que ficou doente. Seu novo amor não teve nenhuma disposição de cuidar dele, abandonando-o assim que seu dinheiro acabou. A ex-mulher e os filhos nunca o perdoaram e ele vivia seus dias finais sozinho. A certa altura, ele me disse: “Eu tinha tudo que alguém poderia desejar e joguei fora. Por que eu fiz isso?”.
O destino desse senhor é, infelizmente, compartilhado por muita gente que, por causa de uma escolha tola na vida, viu desabar tudo que construiu com esforço e tudo que esperava um dia usufruir. Por isso, o apelo de Salomão é mais uma vez para que o leitor “não se desvie” das suas “palavras” — sabendo que nesse capítulo suas palavras tratam do relacionamento do homem com uma “mulher imoral” (v.3). Sua orientação é clara e fechada a interpretações divergentes, dizendo categoricamente “fique longe dessa mulher; não se aproxime da porta de sua casa”. Isso quer dizer que o servo de Deus não pode andar perto do perigo, nem ser insensatamente confiante em sua própria capacidade de lidar com as tentações. Tendo dito isso, Salomão se preocupa em convencer seus leitores da importância dessas palavras, falando, até o v.14, das consequências sofridas por quem for louco o suficiente para abandonar o caminho do bem a fim de se satisfazer com a mulher imoral.
Como tal mulher é também associada à mulher infiel, o primeiro perigo que o tolo enfrenta é ser alvo da vingança do homem traído, de modo que Salomão diz “não entregue aos outros o seu vigor nem a sua vida a algum homem cruel” — deve-se lembrar que mulheres traídas são tão vingativas e perigosas como homens traídos, pelo que a mesma mensagem vale para as servas de Deus. Outro perigo é perder aquilo pelo que tanto se trabalhou, de modo que essa orientação também serve “para que estranhos não se fartem do seu trabalho e outros não se enriqueçam à custa do seu esforço”. Pela graça de Deus, alguns desses casos têm como ser revertidos, mas nem todos, pelo que o alerta final antecipa o arrependimento do tolo quando nada mais pode fazer para reconstruir o que ele destruiu com as próprias mãos. Nesse caso, seus pensamentos amargurados serão tudo que lhe restará, de modo que o escritor alerta que “no final da vida você gemerá, com sua carne e seu corpo desgastados. Você dirá: ‘Como odiei a disciplina! Como o meu coração rejeitou a repreensão! Não ouvi os meus mestres nem escutei os que me ensinavam. Cheguei à beira da ruína completa, à vista de toda a comunidade’”. Por isso, se você não quer chorar no futuro, cuide do modo como você ri no presente. Alguns momentos de prazer podem produzir muito anos de tristeza e sofrimento.