“Ditados do rei Lemuel; uma exortação que sua mãe lhe fez: ‘Ó meu filho, filho do meu ventre, filho de meus votos, não gaste sua força com mulheres, seu vigor com aquelas que destroem reis’” (Pv 31.1-3).
Assim como o capítulo 30 de Provérbios, o 31 também é a coleção — provavelmente feita por Salomão — dos ditos sábios de outra pessoa, nesse caso, ditos pelo “rei Lemuel”. A diferença é que, apesar de Lemuel ser o porta-voz dessa sabedoria, ele a adquiriu da sua “mãe”, pelo que a introdução do capítulo diz: “Ditados do rei Lemuel; uma exortação que sua mãe lhe fez”. Apesar de não ser informado o nome dela, é possível notar que, como uma mulher sábia, ela exerceu bem sua função (cf. Tt 2.3-5) tanto de ensinar o filho (Pv 31.1-9) como de ensinar outras mulheres (Pv 31.10-31). Por essa razão, ainda que os trinta capítulos anteriores do livro contenham mais sabedoria do que possamos adquirir plenamente, esse capítulo traz um enfoque especialmente singular e proveitoso.
A parte em que a mãe aconselha o filho mostra o imenso amor que ela tem por ele, pelo que o chama carinhosamente de “meu filho” e de “filho do meu ventre”, demonstrando ser uma mãe próxima e ligada ao rei. Por outro lado, ela também o chama de “filho de meus votos”, evidenciando que, assim como Ana (1Sm 1.11), ela também fez votos a Deus em função do nascimento, do desenvolvimento ou do reinado de Lemuel — não se sabe a razão exata do voto, nem o compromisso assumido por ela como forma de cumprir sua parte no acordo. Entretanto, esse voto revela sua preocupação com o bem-estar do filho e com seu futuro, pelo que descobrimos a motivação dos conselhos que ela lhe dá, buscando seu bem. Essa é a razão pela qual seus conselhos são confiáveis e dignos de atenção de todos os leitores.
Seu primeiro conselho é “não gaste sua força com mulheres, seu vigor com aquelas que destroem reis”. Ela não explica o contexto, visto que se trata da vida do próprio ouvinte, mas é bem provável que ele, como rei, já fosse casado, pelo que o alerta seria, possivelmente, contra mulheres adúlteras. Mas a verdade é que isso não importa, pois a ênfase está no que pode acontecer com o rei, pelo que ele não deve se achar tão forte como imagina ser. Segundo sua mãe, o rei corria o risco muito grave de ser envolvido por alguma mulher que lhe desviasse do caminho do bem e consumisse suas forças, levando-o à destruição. O mesmo vale para as pessoas que não são reis. As mulheres têm grande potencial para seduzir homens desatentos e desinteressados de servir a Deus. A mesma coisa pode acontecer também com mulheres, seduzidas por homens de boa aparência física e de fala macia. A lição que devemos tirar desse provérbio é que um relacionamento que parece interessante e chamativo, mas que fuja dos padrões da moral e da sabedoria, é meio caminho andado para a desgraça. Você não quer que lhe aconteça algo assim e, certamente, sua mãe também não.