“Se você agiu como tolo e exaltou-se a si mesmo, ou se planejou o mal, tape a boca com a mão! Pois assim como bater o leite produz manteiga, e assim como torcer o nariz produz sangue, também suscitar a raiva produz contenda” (Pv 30.32,33).
Quando jovem, eu vi algo que me chocou muito. Um rapaz nervoso desceu do seu carro e começou a gritar com outro bem mais forte que ele que estava sentado à mesa da lanchonete em que eu jantava com outros amigos. Não deu para entender muito bem a razão da ira daquele jovem, mas entendi muito bem quando o fortão disse: “Tudo bem! Você já falou o que queria. Agora, pare!”. Não adiantou, pois o briguento continuou a gritar — na verdade, ele até aumentou o volume da sua voz. Não satisfeito, ainda deu um chute na perna do outro. O rapaz fortão, já mais alterado, disse: “Chega! Pare enquanto é tempo!”. Não adiantou e o briguento deu mais um chute. Imediatamente, o fortão se levantou e deu um soco muito forte no rosto do outro, levando-o a nocaute. Fiquei muito impressionado com aquilo, pois eu nunca tinha visto uma briga. Não sei se aquele rapaz que apanhou já tinha visto uma briga, mas certamente nunca mais quis ver outra.
Agur termina seu discurso sábio versando sobre a hora de parar uma provocação. Diferente de outros provérbios que descrevem o procedimento sábio ou o agir tolo, esse texto propõe uma virada, ou seja, uma mudança brusca entre a tolice e a sabedoria. Ele começa falando de alguém que, tolamente, fez o que não devia, pelo que “agiu como tolo e exaltou-se a si mesmo” ou “planejou o mal”. Ele fala de casos diferentes que têm em comum o fato de serem tolices que já foram ou começaram a ser postas em prática, seja em ação, em uma postura arrogante ou no planejamento de algo ruim. Nesses casos, não é possível voltar atrás e começar de novo como se nada tivesse ocorrido, mas é possível parar de agir mal, pelo que o sábio aconselha dizendo “tape a boca com a mão!”. Esse é um convite a alguém que está agindo como um tolo para que cesse imediatamente sua ação e mude de atitude.
O conselho é claro e incisivo. Entretanto, Agur não se dá por satisfeito e reforça seu conselho ao explicar a razão de ele ser levado muito a sério. Para isso, ele compara seu motivo ao ato de “bater o leite” até que ele vire “manteiga” e ao fato de “torcer o nariz” de modo brusco até que saia dele “sangue”. É como se falasse da lei da ação e reação, na qual ações bruscas produzem resultados inevitáveis e, dependendo da ação, também desagradáveis. Dito isso, ele apresenta seu motivo dizendo que “suscitar a raiva produz contenda”. Isso é um sério alerta de que é bom o tolo parar com sua tolice antes que ela a leve aonde ele não pretende ir. Em outras palavras, ele não deve enervar outras pessoas na confiança de conseguir manter a situação sob controle, pois, quando o ódio é suscitado, os resultados são imprevisíveis. O tolo normalmente paga para ver e não gosta do que descobre. Aquele que quer mudar de caminho e buscar a sabedoria se detém enquanto é tempo, pois imagina o quanto é ruim ir a nocaute. Não seja um tolo! Saiba quando parar!