“Os justos levam em conta os direitos dos pobres, mas os ímpios nem se importam com isso” (Pv 29.7).
Em 22 de junho de 1772, a escravidão foi efetivamente eliminada no território das ilhas britânicas. Embora a escravidão tenha gradualmente morrido na Europa após a introdução do cristianismo, ela não foi oficialmente proibida e, ocasionalmente, um dono de escravos do exterior trazia escravos com ele para a Grã-Bretanha. Por essa causa, foi decidido que um escravo se tornava automaticamente um homem livre ao colocar o pé na Grã-Bretanha. Mas essa decisão não tinha o menor efeito sobre a escravidão nas colônias ultramarinas. Até que William Wilberforce, que tinha sido profundamente influenciado por John Newton, ex-traficante de escravos e autor de Amazing grace, tornou-se um abolicionista e passou a pleitear com vigor o fim da escravidão por lei no Parlamento britânico, luta que durou muitos anos e que consumiu sua saúde. Em 1833, ele obteve sucesso, morrendo três dias depois.
Mas será que uma luta por direitos de terceiros vale a saúde e até a morte de um homem? Wilberforce diria que sim. Talvez ele até desse outra vida, caso a tivesse, pela mesma causa. Isso porque é verdade o que ensina Salomão, ao dizer que “os justos levam em conta os direitos dos pobres”. É claro que ninguém deve se empolgar demais com a expressão “direito dos pobres”, pois nosso mundo é muito bom para discursar sobre ele, ao mesmo tempo que faz muito pouco para efetivá-lo. Porém, não é por isso que todos devem abandonar a ideia de lutar pelos direitos dos necessitados, especialmente no que tange aos servos de Deus como William Wilberforce ou como Jó, o qual diz de si mesmo que “eu era o pai dos necessitados e me interessava pela defesa de desconhecidos” (Jó 29.16). Homens assim buscam o bem alheio sem segundas intenções. Porém, Deus não deixa de reconhecer sua bondade, pelo que se exclama: “Como é feliz aquele que se interessa pelo pobre! O Senhor o livra em tempos de adversidade” (Sl 41.1).
Com os ímpios isso acontece de modo bem diferente, pelo que o escritor explica que, enquanto os justos se dedicam a ajudar quem não tem condições de garantir seu bem-estar sozinho, “os ímpios nem se importam com isso”. Na verdade, a única pessoa com quem o ímpio se importa é com ele mesmo e, para garantir seu benefício, ele chega até mesmo a prejudicar aqueles a quem deveria proteger. Se isso já é ruim para o caráter de uma pessoa, sua situação fica ainda pior quando Deus lhe trata como sua maldade e ganância merecem, pelo que se diz que “quem fecha os ouvidos ao clamor dos pobres também clamará e não terá resposta” (Pv 21.13). Esse é o tipo de fato aparentemente contraditório que diferencia o cristianismo de todas as outras crenças, a saber, que quem prioriza os outros encontra o bem pessoal, enquanto quem busca seu próprio benefício acaba por perdê-lo. Qual desses dois tipos de pessoa é você?