“Quem adula seu próximo está armando uma rede para os pés dele” (Pv 29.5).
John Smith ainda é um dos nomes mais comuns dos Estados Unidos. Foi por essa razão que Mark Twain dedicou sua história, A célebre rã saltadora do condado de Calaveras para John Smith, que, segundo o autor disse na inscrição, “conheci em diversos lugares e cujas muitas e múltiplas virtudes despertam a minha estima”. Twain imaginou que alguém a quem um livro é dedicado jamais deixaria de comprar pelo menos uma cópia dele, e, já que havia milhares de John Smiths, seu livro teria a garantia de pelo menos uma venda modesta.
Esse é um tipo de bajulação muito comum entre pessoas que querem vender um produto ou uma ideia. Não é exatamente honesto, mas também não é errado. Contudo, nem todo tipo de adulação é tão moralmente neutra como essa. Há um tipo de bajulação cujos interesses são mesquinhos e traiçoeiros, pelo que Salomão alerta seus leitores sobre um tipo de pessoa que “adula seu próximo”. Essa não é apenas uma arma perigosa, mas também efetiva, pois todos gostam de ser bajulados. Isso faz parte das fraquezas do ser humano, razão pela qual todos têm grande capacidade de cair nas armadilhas dos aduladores. O grande problema é que quem bajula com esse tipo de motivação, na verdade “está armando uma rede para os pés” da sua vítima. A diferença é que, enquanto uma vítima de ataques abertos se defende ao ver chegar o perigo, essa se desarma diante do que julga serem elogios honestos e verdadeiros, sucumbindo do mesmo modo que uma mosca que pousa em uma teia de aranha.
Esse provérbio, apesar de curto, traz muitas lições e aplicações tanto para aquele que é bajulado como para o bajulador perverso. Para o bajulador, fica o severo alerta de que Deus conhece esse tipo de trama e é o juiz de coisas assim. É possível enganar as pessoas com muitas adulações, mas Deus não se deixa enganar, nem se empolga com demonstrações falsas de apreço. Por outro lado, a lição àquele que se deixa bajular porque gosta de ser enaltecido e elogiado é que seu pecado é dar vazão ao seu orgulho e à tolice de se tornar um alvo fácil diante de palavras lisonjeiras. Por isso, o servo de Deus tem de ter uma boa noção de quem ele é e de quão dependente ele é de Deus. Com essas verdades bíblicas em mente, ele fica blindado contra bajulações traiçoeiras, pois, conhecendo suas falhas, não acredita em elogios intensos demais. E quando ele sabe que seus feitos merecem algum reconhecimento, ele transfere a Deus o crédito e o louvor, atendendo à orientação de que, “quem se gloriar, glorie-se no Senhor” (1Co 1.31b). Isso trará honra a Deus e segurança para seus servos.