“O assassino atormentado pela culpa será fugitivo até a morte; que ninguém o proteja! Quem procede com integridade viverá seguro, mas quem procede com perversidade de repente cairá” (Pv 28.17,18).
Certa vez, um pintor quis retratar a imagem da inocência. Ele encontrou e pintou um menino, chamado Rupert, ajoelhado ao lado de sua mãe, em oração. As palmas de suas mãos estavam unidas e os suaves olhos azuis tinham uma expressão de devoção e paz. O pintor foi premiado por esse retrato, ao qual deu o nome de Inocência. Anos mais tarde, o mesmo artista, já velho, quis retratar o oposto daquela pintura, ou seja, a imagem da culpa. Ele, então, visitou uma prisão vizinha. No chão úmido de uma cela jazia um homem miserável, fortemente acorrentado. Seu corpo estava terrivelmente acabado, seus olhos eram vazios e seu rosto exibia traços muito feios. Tragicamente, tratava-se da mesma pessoa que ele pintou no passado, o pequeno Rupert. Assim, o velho pintor reproduziu aquela condição e pendurou, lado a lado, os dois quadros, os quais tinham os nomes de Inocência e Culpa.
A culpa tem o poder de abater as pessoas e, muitas vezes, fazê-las definhar. Contudo, a culpa tem efeitos mais drásticos que esse. Segundo Salomão, “o assassino atormentado pela culpa será fugitivo até a morte”. Significa que aquele que tira a vida de outra pessoa se torna culpável de uma dura pena, da qual ele tenta fugir por todos os meios. A dignidade humana que é destruída em um homicídio é tão grande que a pena pelo assassinato tem de ser dura. Por isso, o homicida luta para escapar de tal pena, percebendo tarde demais que sua única saída é a própria morte, razão pela qual durante toda a sua vida ele carrega a alcunha de “assassino” e o temor de ser pego. É uma situação que dá pena. Contudo, a orientação do rei sábio não é que as pessoas acudam ou consolem o homicida, mas que “ninguém o proteja”, parecendo mais estabelecer uma lei em Israel que compor um provérbio. A consequência dessa ordem é mostrar que certas ações pecaminosas não podem ser ignoradas ou minimizadas.
Por isso, se alguém quer paz e segurança deve ser muito responsável com o que faz, pois “quem procede com integridade viverá seguro”. Isso quer dizer que ninguém pode se dar o direito de agir por impulsos ou de ser irresponsável a ponto de achar que qualquer coisa pode ser resolvida com algum “jeitinho” depois de feito. Algumas consequências são permanentes e graves. Por esse motivo, o escritor avisa que “quem procede com perversidade de repente cairá”. As aplicações desses ditos para os servos de Deus são radicais, pois implicam que, independente de o mundo ensinar que todos são livres para fazer o que desejarem e que ninguém tem o direito de contestar, o cristão é chamado a assumir valores absolutos e uma conduta condizente. Ele deve pagar o preço de viver pelos ensinos de Deus nas Escrituras e não pode negociar tais valores com um mundo que desprezou e abandonou o Senhor há muito. Seja na posição que assume diante do pecado do mundo ou da conduta que deve ter diante de Deus, o servo de Deus deve ser correto, digno e obediente ao Senhor. Seu retrato final deve, pela fé em Cristo e pela obediência às Escrituras, ser o da pura “inocência”.