“Como um leão que ruge ou um urso feroz é o ímpio que governa um povo necessitado. O governante sem discernimento aumenta as opressões, mas os que odeiam o ganho desonesto prolongarão o seu governo” (Pv 28.15,16).
Os últimos séculos foram marcados pela drástica mudança da maioria dos governos ao redor do mundo, sendo que a democracia tem sido a escolha mais recorrente dos povos. Defendendo tal sistema, Abraham Lincoln disse que “nenhum homem é bom o suficiente para governar outro homem sem o seu consentimento”. É claro que não se trata de um sistema perfeito, mas tem o lado positivo de evitar, pelo menos em tese, a opressão dos poderosos sobre os indefesos, pelo que Winston Churchill, com seu jeito irônico de dizer grandes coisas, afirmou que “a democracia é o pior sistema já inventado, exceto por todos os outros”.
Defeitos à parte, as ditaduras do passado e do presente acabam validando os ditos desses homens ilustres. As muitas ocorrências de mortes, torturas e guerras travadas durante a história, simplesmente para satisfazer homens de poder político ilimitado, fazem jus ao dito de Salomão que afirma que “o ímpio que governa um povo necessitado” é “como um leão que ruge ou um urso feroz”. Deve-se ressaltar que o provérbio não responsabiliza exatamente o sistema de governo, mas o caráter “ímpio” de um governante mau, o qual passa a ser comparado a uma fera devoradora. A ideia do poder ditatorial que esse homem tem vem da menção aos seus governados como “um povo necessitado”, ou seja, completamente carente e dependente de seus governantes, sem ter qualquer poder de confrontá-los, puni-los pelas injustiças ou trocá-los por outros melhores. Nas mãos de um justo, até mesmo uma ditadura é compassiva com seu povo e benéfica a ele. Mas os “ímpios” que têm muito poder transformam a vida das pessoas em um terrível tormento.
Israel, sendo uma monarquia, era também um tipo de ditadura em que o poder estava centralizado nas mãos do rei Salomão. Ainda assim, longe de criar provérbios em benefício próprio, ele diz que “o governante sem discernimento aumenta as opressões” — regra que serviria para avaliar seu próprio governo. Porém, sem querer se eximir dessa responsabilidade, ele acrescenta que “os que odeiam o ganho desonesto prolongarão o seu governo”, algo que se cumpriu muitas vezes na história dos bons reis de Judá. Por isso, os servos de Deus têm duas importantes responsabilidades na vida política e civil da sua sociedade. Em primeiro lugar, devem escolher governantes honestos e fiéis que mereçam ser honrados com toda convicção. Em segundo, têm de agir com responsabilidade diante de Deus quando exercem governo sobre outros, desde cargos políticos elevados até posições de liderança de esferas mais baixas e domésticas, sabendo que oprimir os outros é ser um instrumento de sofrimento alheio. O resultado será se tornar alvo da punição do maior de todos os governantes.