“Quem lavra sua terra terá comida com fartura, mas quem persegue fantasias se fartará de miséria. O fiel será ricamente abençoado, mas quem tenta enriquecer-se depressa não ficará sem castigo” (Pv 28.19,20).
Conheci alguém que podia ser corretamente chamado de um sonhador. Na juventude, sempre que falava dos seus planos futuros, ele relatava projetos grandiosos como montar uma mineradora no Sul do País, uma madeireira no Norte ou uma importadora de alcance multinacional. São planos magníficos que qualquer um pode ter e perseguir. O problema desse rapaz é que ele tinha tais sonhos, mas não fazia absolutamente nada no sentido de alcançá-los. Na verdade, ele nem trabalhava, pois não aceitava nenhum emprego que não fosse para assumir o cargo de presidente de uma empresa. Em vez de começar de baixo, trabalhando duro para perseguir seus objetivos, ele preferia ficar sonhando com sucessos que jamais obteria ao permanecer parado. O tempo passou e ele de fato não viu seus sonhos concretizados.
Essa história me vem à mente quando observo as orientações ligadas ao trabalho dadas por Salomão. Nesse trecho, ele oferece duas razões para o fracasso e duas para o sucesso. Sobre o fracasso ele diz que “quem persegue fantasias se fartará de miséria”. Ele chega a ser irônico ao dizer que haverá fartura apenas de carências e não de suprimentos, justamente porque o tolo, em vez de trabalhar, desperdiça seu tempo com sonhos inúteis que não se cumprem. O problema não está no tamanho do sonho, mas na ausência da sua busca, pois não adianta apenas desejar enquanto se dá lugar à preguiça. Outro modo de fracassar é provado por “quem tenta enriquecer-se depressa”, ou seja, por meios ilícitos que não seguem as normas sociais, nem a ética do trabalho, visando a pular etapas e obter aquilo pelo qual não se trabalhou. O escritor garante que quem age assim “não ficará sem castigo”, pois, implicitamente, está a ideia de que o sumo juiz não inocenta quem trapaceia para se dar bem.
Por outro lado, Salomão não ensina receitas mágicas para se obter sucesso, mas diz que “quem lavra sua terra terá comida com fartura”. Isso não é glamoroso como desejariam os grandes sonhadores, mas é efetivo e, mais que isso, honrado e exemplar. A verdade é que Deus, que é o dono de tudo e o soberano sobre a história, decidiu usar o trabalho como meio de nos suprir. Porém, esse esforço responsável não serve apenas à nossa subsistência, mas também à tarefa de moldar nosso caráter e dar testemunho de transformação. Contudo, o Senhor não coloca toda a responsabilidade da provisão em nossas mãos, dizendo também que “o fiel será ricamente abençoado”, o que quer dizer que, enquanto o servo de Deus tem sua porção de responsabilidade, o Senhor tem a dele. Não adianta ser apenas esforçado, sendo também preciso ser fiel a Deus, honrando seu nome e obedecendo às suas instruções. Por isso, em vez de sonhar com coisas inúteis e com glórias mundanas, sirva a Deus com fervor e trabalhe duro como se fosse para o próprio Senhor. O resto é ele quem faz.