“O rico pode até se julgar sábio, mas o pobre que tem discernimento o conhece a fundo” (Pv 28.11).
O Dr. A. T. Robertson (1863-1934), grande estudioso da língua grega e do Novo Testamento, certa vez escreveu um artigo para uma revista batista do Sul dos Estados Unidos. No artigo, ele descreveu a conduta de Diótrefes, citado em 3João 9-12. Vinte e cinco diáconos de várias igrejas batistas escreveram ao editor cancelando suas assinaturas. Eles disseram que acreditavam que Robertson havia escrito sobre eles. É impressionante como a carapuça serviu bem em tanta gente. Mais impressionante ainda é cada um desses homens deixar de fazer tal análise pessoal em meio ao seu ministério diaconal para se arrepender dos pecados e servir melhor a Deus e à igreja.
É claro que esses homens tinham de si uma imagem muito positiva, ainda que tivessem de se convencer dela constantemente. Isso se deve a mais uma faceta da tolice. Sobre esse tipo de problema, Salomão tem algo específico a dizer, afirmando que “o rico pode até se julgar sábio”. O texto hebraico produz a ideia de alguém que olha para si mesmo com os próprios olhos, produzindo a ideia de que se trata de uma avaliação pessoal. Isso normalmente é bom e todos deviam fazer autoanálises. O problema aqui é que esse tipo de tolo olha para si através dos óculos da riqueza, vendo a si mesmo diferente do que deveria e do que é verdadeiro. Por isso, sua avaliação de si o leva a crer que ele é melhor e mais importante que aqueles que não têm os mesmos recursos financeiros. Ele acha que tem mais direito que os outros. Julga, também, que suas opiniões são melhores e devem ser mais respeitadas que outras. Ele, sendo um tolo por desprezar o que é realmente valioso, ironicamente se julga “sábio”.
Porém, somente o tolo se vê diferente do que realmente é por causa de dinheiro. O texto diz que “o pobre que tem discernimento o conhece a fundo”. Deve-se notar, em primeiro lugar, que pobreza não é sinônimo de sabedoria, sendo necessário que qualquer um tenha, de fato, “discernimento”. Mas quando tem, ele é capaz de olhar para o rico e ver o que há por trás do dinheiro. É por isso que “o pobre que tem discernimento” não se ilude com as riquezas — o que é tolo se ilude e admira alguém pelo que possui. Mas o sábio, conhecedor da Palavra de Deus, a qual serve de padrão para medir os homens, “conhece a fundo” o que há no coração do rico que despreza o Senhor e que é dado ao vazio do mundo. Tendo as Escrituras como óculos para enxergar seu próprio caráter e o dos outros, ele não se deixa enganar por valores passageiros, mas busca o que é eterno. Por isso, pergunte-se como você se vê e quais são as coisas que você valoriza. Isso pode lhe dizer se você é um sábio ou um tolo.