“A sabedoria construiu sua casa; ergueu suas sete colunas. Matou animais para a refeição, preparou seu vinho e arrumou sua mesa. E enviou as servas para fazerem convites desde o ponto mais alto da cidade, clamando: ‘Venham todos os inexperientes!’. Aos que não têm bom senso ela diz: ‘Venham comer a minha comida e beber o vinho que preparei. Deixem a insensatez, e vocês terão vida; andem pelo caminho do entendimento’” (Pv 9.1-6).
A senhora Clerk Donni LaSaw, dona de uma loja de conveniência no bairro de West End, em Vancouver, no Canadá, certo dia viu um suposto bandido entrar em sua loja e lhe ordenar que entregasse todo o dinheiro. Quando ela abriu a caixa registradora, perguntou ao rapaz: “Será que realmente vale a pena ter um registro policial por causa de 25 dólares?”. O jovem lhe respondeu que “um homem precisa comer”. Ao ouvir isso, ela propôs o seguinte: “Ao invés de eu telefonar para a polícia por causa de 25 dólares, prefiro lhe dar um sanduíche e um par de maçãs”. O homem concordou que essa era realmente uma ideia melhor que a do roubo e comeu o que lhe foi oferecido.
A fome é um sofrimento terrível que leva os homens a cometer terríveis tolices. Infelizmente, a fome física não é a única responsável por efeitos desastrosos. Por isso, a Sabedoria, que Salomão personifica no capítulo 8, surge como protagonista também no capítulo 9. Aqui, a Sabedoria tem conhecimento da fome espiritual e intelectual que as pessoas têm, de modo que se propõe bondosamente a suprir os necessitados. Por isso, o escritor diz que “a Sabedoria construiu sua casa; ergueu suas sete colunas. Matou animais para a refeição, preparou seu vinho e arrumou sua mesa”. A figura produzida por essas palavras é a de um anfitrião preocupado em fazer o melhor para receber e suprir seus convidados, construindo uma grande e espaçosa morada — “sete colunas” era um tipo de fundação comumente utilizado em alguns palácios e templos — que pudesse receber todos os seus convidados, sem rejeitar nenhum deles por falta de lugar (cf. Pv 8.17b). Logo após, ela faz seus preparativos em relação à refeição, preparando animais saborosos e nutritivos, além de deixar o vinho pronto para o consumo — era comum misturar uma parte de vinho em três de água logo antes de consumir essa bebida a fim de não causar uma danosa embriaguês.
Feitos os preparativos para uma festa memorável, o próximo passo é chamar os convidados, pelo que a Sabedoria “enviou as servas para fazerem convites desde o ponto mais alto da cidade”. O que surpreende não é exatamente a hospitalidade dessa nobre anfitriã, mas as pessoas a quem ela convida, já que suas servas proclamam nas ruas da cidade “venham todos os inexperientes!”. Se um intelectual dá uma festa, normalmente seus convidados também são intelectuais, mas com a Sabedoria ocorre o oposto, pois ela não chama pessoas que julgam ser sábias, mas sim aqueles que mais precisam dela. Isso lembra a parábola que Jesus contou, na qual o rei convidou pessoas da sociedade para participar de um banquete de casamento, mas eles não quiseram comparecer, de modo que ele convidou os pobres e mendigos da cidade (Mt 22.1-14). A intenção da Sabedoria parece ser a de alimentar quem tem fome, pelo que “aos que não têm bom senso ela diz: ‘Venham comer a minha comida e beber o vinho que preparei. Deixem a insensatez, e vocês terão vida; andem pelo caminho do entendimento’”. Por isso, em vez de você achar que está com a barriga cheia dos conhecimentos e das ideologias do mundo, aceite o convite para cear no palácio da Sabedoria e da Palavra de Deus. O paladar é muito melhor.