Ultimamente, as coisas estão do avesso. Bandidos andam impunemente pelas ruas, enquanto cidadãos de bem ficam presos em suas casas. Pessoas de bem são ameaçadas por quem as deveria proteger. Homens honestos são roubados por pessoas que deveriam garantir a justiça, principalmente aos mais fracos.
Quando isso acontece, mesmo desacreditados a respeito da eficácia do sistema, as pessoas que foram injustiçadas procuram os responsáveis por garantir que a retidão e os direitos dos cidadãos sejam cumpridos. Mas, é aí que começa uma parte triste da história de muita gente. A justiça, que se espera vir de órgãos criados para esse fim, às vezes não chega, seja por corporativismo, corrupção ou por desigualdade de condições financeiras entre as partes, seja por meio da morosidade e da burocracia presentes nos veículos da justiça.
Tenho de ser honesto: é uma visão desalentadora. Confesso que não acredito mais na justiça promovida pelos homens, apesar de saber que há uma parcela de pessoas comprometida com a verdade e com a honestidade.
No meio da minha desilusão, vêm-me à mente o Salmo 7. Ele foi escrito após Davi ser acusado injustamente por alguém chamado Cuxe. Alguns comentaristas acreditam se tratar de alguém desconhecido, enquanto outros arriscam ser ele Simei (2Sm 16.5-13), ou o próprio Saul, cujo pai se chamava Quis (1Sm 9.1,2). Independente de quem seja, o fato de ser “benjamita” nos dá, como pano de fundo, a inimizade injustificada de Saul por Davi e as diversas tentativas de assassinato por parte do rei contra o jovem que, tudo que fez, foi servir ao Senhor e a Israel com fidelidade. Seja Cuxe quem for, ele estava alinhado com a desmoralização e perseguição de Davi com base em interesses escusos.
Diante dessa situação, sem se perder no desespero e na lamúria, Davi olha para o Senhor e diz: “Em ti me refugio” (v.1). Davi usa o mesmo verbo, hasah, que usou no Salmo 36.7 para dizer que “os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas”. Traz a ideia de alguém indefeso, como um filhotinho de ave, buscando abrigo e consolo sob as asas da sua grande e decidida mãe. Afinal, quem nunca viu uma galinha enfrentando quem quer que seja para proteger seus pequeninos? Era assim, e com essa confiança, que Davi olhava para Deus. Isso justifica o pedido de Davi: “Salva-me de todos os que me perseguem e livra-me, para que ninguém, como leão, me arrebate, despedaçando-me, não havendo quem me livre” (vv.1,2).
Essa esperança, contudo, não se baseava apenas em um tipo de otimismo ou em expectativas infundadas. Davi, que sabia qual era o tipo de poder que Deus possui, também conhecia a retidão dos seus juízos. Se Davi sofria injustiça diante de Cuxe e de outros benjamitas, o Senhor saberia julgar corretamente a situação e dar “ganho de causa” a quem de direito. Davi diz a Deus: “Se eu fiz o de que me culpam, se nas minhas mãos há iniqüidade, se paguei com o mal a quem estava em paz comigo, eu, que poupei aquele que sem razão me oprimia, persiga o inimigo a minha alma e alcance-a, espezinhe no chão a minha vida e arraste no pó a minha glória” (vv.3-5). Ao apresentar seu caso a Deus, Davi afirma sua retidão diante das falsas acusações e da perseguição e lembra seus atos justos, como, provavelmente, o de poupar Saul quando teve chance de matá-lo. O motivo para isso é que ele sabia que Deus conhecia tais fatos e saberia agir com sabedoria e retidão para com ele. Assim, recorrendo ao Senhor de toda justiça, Davi pede “desperta-te em meu favor” (v.6).
Com o rumo que as coisas têm tomado em nosso país e no mundo, principalmente no que tange à perseguição contra o cristianismo verdadeiro, é bem possível que a mesma oração de Davi deva ser feita por nós. Mas, se e quando o fizermos, que seja com a mesma atitude, em primeiro lugar confiante e, em segundo, com as mãos limpas de quem segue as palavras do Mestre.
Sendo assim, descansemos. Afinal, se uma pequena galinha pode dar conforto e proteção aos seus filhinhos, o que poderá o Senhor eterno, Rei dos reis, fazer por nós, seus filhos por quem enviou e entregou à morte o Senhor Jesus Cristo?