“Visto que desprezaram o conhecimento e recusaram o temor do Senhor, não quiseram aceitar o meu conselho e fizeram pouco caso da minha advertência, comerão do fruto da sua conduta e se fartarão de suas próprias maquinações. Pois a inconstância dos inexperientes os matará, e a falsa segurança dos tolos os destruirá; mas quem me ouvir viverá em segurança e estará tranquilo, sem temer nenhum mal” (Pv 1.29-33).
Viajando de ônibus, alguns anos atrás, ouvi uma conversa vinda do banco da frente ao que eu estava sentado. Era a triste história da morte de um rapaz. Segundo o relato, esse rapaz estava no volante de um automóvel quando o passageiro notou que ele estava sem o cinto de segurança, de modo que o orientou a colocá-lo. Entretanto, ele estava confiante em suas habilidades ao volante e garantiu que nada lhes aconteceria. O mesmo passageiro pediu então que demais ocupantes do veículo colocassem o cinto, ao que todos atenderam. Somente o motorista insistiu em não usar. Alguns quarteirões adiante, um carro vindo na contramão os atingiu, mas todos saíram ilesos do acidente, com exceção do motorista, o qual foi lançado contra o vidro e morreu devido a um traumatismo craniano.
Mais uma vez, a Sabedoria enfatiza que foi rejeitada pelos tolos, dizendo: “Visto que desprezaram o conhecimento e recusaram o temor do Senhor, não quiseram aceitar o meu conselho e fizeram pouco caso da minha advertência”. Do mesmo modo que na seção anterior, ela também revela que não é possível desprezá-la sem sofrer as consequências disso, de modo que os tolos “comerão do fruto da sua conduta e se fartarão de suas próprias maquinações”. Esse princípio é conhecido como “lei da sega” ou “lei da colheita,” ao qual o apóstolo Paulo também alude dizendo que “de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá” (Gl 6.7). Para que não haja nenhum mal-entendido, Salomão descreve bem esse processo ao dizer que “a inconstância dos inexperientes os matará, e a falsa segurança dos tolos os destruirá”, resumindo, com isso, que os benefícios que os tolos buscam à custa da sabedoria são justamente a razão do seu mal.
Tudo isso já tinha ficado claro na seção anterior (vv.25-28). A diferença é que, dessa vez, em lugar de simplesmente anunciar os efeitos da estupidez, a Sabedoria aponta a porta de escape desse destino terrível, dizendo: “Mas quem me ouvir viverá em segurança e estará tranquilo, sem temer nenhum mal”. Normalmente, os insensatos desprezam os bons conselhos e os bons caminhos por achar que isso custará sua alegria e seu prazer. Porém, esse texto mostra justamente o contrário, informando que tanto a “segurança” como o viver “tranquilo”, os quais o mundo procura na loucura dos seus atos, somente são alcançados se o homem buscar a sabedoria ensinada por Deus nas Escrituras, seguindo seu caminho e fazendo-lhe a vontade. Assim, enquanto os tolos são atingidos justamente por aquilo que mais temem (v.26), os sábios vivem “sem temer nenhum mal”. Ao informar os leitores a respeito desse escape das consequências da tolice, a Sabedoria também convida a cada um para que a aceite, assim como as palavras do Senhor. Então, decida logo se vai ou não usar o cinto de segurança, pois a velocidade dessa vida está só aumentando e as curvas são cada vez mais perigosas.