“A sabedoria clama em voz alta nas ruas, ergue a voz nas praças públicas; nas esquinas das ruas barulhentas ela clama, nas portas da cidade faz o seu discurso: Até quando vocês, inexperientes, irão contentar-se com a sua inexperiência? Vocês, zombadores, até quando terão prazer na zombaria? E vocês, tolos, até quando desprezarão o conhecimento? Se acatarem a minha repreensão, eu lhes darei um espírito de sabedoria e lhes revelarei os meus pensamentos. Vocês, porém, rejeitaram o meu convite; ninguém se importou quando estendi minha mão!” (Pv 1.20-24).
Quando eu era criança, um dos meus programas preferidos era o Domingo no parque, com suas brincadeiras divertidas e empolgantes — pelo menos era assim que eu as via. Eu torcia por cada participante. No que dependesse de mim, todos iriam para casa com todos aqueles presentes. Por isso, o quadro que mais me desesperava era a cabina em que o participante tinha de dizer “sim” ou “não” para propostas que ele não ouvia por ter nos ouvidos um fone com música alta. A maior tristeza que senti foi no dia em que o garoto, que já tinha ganhado todos os prêmios, foi questionado se queria trocar tudo aquilo por uma bolinha de pingue-pongue quebrada. Enquanto todo o auditório gritava desesperado um sonoro “não”, o garoto, que não ouviu uma palavra do que fora dito, gritou um feliz e esperançoso “sim”. Que tristeza!
Salomão conhecia uma escolha ainda mais triste que essa. Aqui começa uma divisão maior que o trecho ora selecionado no qual o escritor personifica a sabedoria, ou seja, fala dela como se fosse uma pessoa interagindo e falando com outras. Ele supõe uma situação em que “a sabedoria clama em voz alta nas ruas, ergue a voz nas praças públicas; nas esquinas das ruas barulhentas ela clama, nas portas da cidade faz o seu discurso”. Dito isso, ele imagina a sabedoria se dirigindo às pessoas que mais precisam dela e indo direto ao ponto, sem floreios, dizendo-lhes: “Até quando vocês, inexperientes, irão contentar-se com a sua inexperiência? Vocês, zombadores, até quando terão prazer na zombaria? E vocês, tolos, até quando desprezarão o conhecimento?”. Assim, os “inexperientes”, os “zombadores” e os “tolos” recebem um claro alerta de que estão trilhando caminhos errados que precisam ser urgentemente abandonados. Palavras duras para iniciar uma conversa!
Mas a sabedoria sabe muito bem o que faz, de modo que tão logo evidencia a necessidade das pessoas, faz-lhes uma maravilhosa proposta de que, “se acatarem a minha repreensão, eu lhes darei um espírito de sabedoria e lhes revelarei os meus pensamentos”. Na prática, a ideia é que a pessoa que entende sua tolice e busca sabedoria, acaba aprendendo-a e beneficiando-se dela, seja rico ou pobre, instruído ou simples. A oferta da sabedoria é aberta a todos, atrelada apenas à condição “se acatarem a minha repreensão”. Contudo, por mais maravilhosa que seja a proposta, há quem tenha uma ideia tão elevada de si que não acredita precisar de nenhum ensino adicional. Há também quem se sinta ofendido com qualquer correção que receba. E há aqueles que desprezam a sabedoria, buscando apenas prazer e diversão em suas vidas. Assim, por mais absurdo que possa parecer, o texto diz: “Vocês, porém, rejeitaram o meu convite; ninguém se importou quando estendi minha mão!”. A lição é que é preciso reconhecer, enquanto é tempo, a necessidade que cada um tem da sabedoria exposta na Palavra de Deus. Afinal, quando tais homens estiverem diante de Deus e quiserem lhe dizer tardiamente um “sim”, o que irão ouvir de volta será um sonoro e decidido “não”.