“Escolhe a lã e o linho e com prazer trabalha com as mãos. Como os navios mercantes, ela traz de longe as suas provisões. Antes de clarear o dia ela se levanta, prepara comida para todos os de casa, e dá tarefas às suas servas” (Pv 31.13-15).
Nosso horário não é nem parecido com o das aves, visto que algumas delas trabalham cerca de dezenove horas por dia. Incansavelmente, elas limpam as plantas de pragas e insetos. O tordo, por exemplo, se levanta às 2h30 todas as madrugadas e trabalha sem parar até às 21h30 da noite. Durante esse tempo, ele alimenta seus filhotes famintos cerca de duzentas vezes. O melro começa a trabalhar ao mesmo tempo que o tordo, mas encerra suas atividades duas horas mais cedo, depois de prover cerca de cem refeições para os filhotes. Uma pequena e veloz ave conhecida como titmouse consegue alimentar seus filhotes cerca de quatrocentas vezes ao longo do dia. Com raríssimas exceções, as aves e a preguiça não andam juntas.
A mãe de Lemuel, depois de falar da confiabilidade da mulher virtuosa, vê também virtude no seu esforço e na sua diligência, mostrando que a boa qualidade de uma mulher jamais anda de mãos dadas com a preguiça. Assim, ela pinta um quadro muito forte da mulher de valor dizendo que ela “escolhe a lã e o linho e com prazer trabalha com as mãos”. Isso não significa que todas as mulheres têm de ser trabalhadoras manuais, mas sim que têm de estar prontas para fazer o necessário para o bem da sua família. Esforço e determinação são enfatizados com uma comparação sugestiva que diz que, “como os navios mercantes, ela traz de longe as suas provisões”. Trazer “de longe” aquilo que faz “provisão” para ela e sua família, provavelmente, é uma expansão da ideia de que ela “escolhe a lã e o linho”, sugerindo uma figura em que ela busca sua matéria-prima no campo, escolhendo-a e carregando-a, um trabalho árduo que exige a diligência de alguém que conhece bem suas responsabilidades.
Outro modo de expressar a virtude da mulher que não é preguiçosa é dizer que “antes de clarear o dia ela se levanta”. Quase todo mundo sabe o quanto isso é difícil e quanta determinação é preciso para se levantar diariamente contra a natureza do sono e da lassidão. Mas a mulher virtuosa o faz, não porque goste, mas porque várias pessoas da casa dependem da estrutura que ela lhes proporciona, de modo que, assim, ela “prepara comida para todos os de casa”. Feito isso, sua segunda ocupação é dar as “tarefas às suas servas”. É claro que nem todas as mulheres têm servas a seu dispor, mas a ideia não é apontar para uma pessoa que apenas transfere responsabilidades para outras, mas alguém capacitada a ensinar o que quer que suas empregadas lhe façam, o que também implica que tal mulher tem experiência no trabalho por executá-lo com primor para o bem dos seus. Portanto, qualquer mulher que queira ser reconhecida como virtuosa, seja ela rica ou pobre, que trabalha sozinha ou com vários empregados, certamente deve ser alguém que nenhuma relação tenha com a preguiça. Uma mulher assim certamente será capaz de alçar longos voos em benefício dos seus.