“Discipline seu filho, e este lhe dará paz; trará grande prazer à sua alma” (Pv 29.17).
Há alguns anos, encontrei na rua um colega que eu não via há muitos anos. Perguntei o que ele fazia na cidade e ele me respondeu que veio para um enterro. Na verdade, o último dos seus quatro amigos de infância mais chegados havia morrido. Todos os quatro foram mortos em confrontos com a polícia ou com outros bandidos. Mas esse rapaz, longe de seguir o mau caminho dos companheiros, estudou, entrou na faculdade de engenharia civil, começou a trabalhar em uma firma depois da formatura, casou-se com uma boa moça e estava prestes a ter seu primeiro filho. Tamanha diferença de rumos não se deu fortuitamente, mas em razão da ação de pais, que sempre estiveram presentes em sua educação e que insistiram em corrigir os erros do filho. Passada a turbulenta fase da adolescência, seus pais agora colhiam os frutos do investimento que fizeram no filho e o tinham como uma incomparável fonte de alegria.
Eu conheci esses pais e sei como foi duro ensinar seu filho. Particularmente, foi muito chocante testemunhar o pai desse rapaz chorando, certo dia, por sentir na pele as dificuldades de educar um filho rebelde que insistia em andar com gente ruim. Mas eles não desistiram e acabaram obtendo o que almejavam. Se esses pais perderam o sono muitas vezes por causa da preocupação com o garoto, agora eles desfrutavam de uma tranquilidade que Salomão anunciou ao dizer: “Discipline seu filho e este lhe dará paz”. É claro que essa paz é almejada durante o processo disciplinar por geralmente estar ausente — é uma etapa da vida muito difícil, desgastante e desanimadora. É por isso que muitos pais desistem de corrigir os filhos nessa fase e optam por soluções paliativas, como a aplicação de filosofias educacionais que nada ensinam de fato ou de soluções “tampão”, como colocar os filhos diante da televisão e do computador para que se distraiam e deem um sossego aparente aos pais. Só que isso não funciona, pois é o mesmo que tentar consertar o furo de um pneu com uma fita adesiva.
Apesar das agruras da educação dos filhos — especialmente em alguns casos —, a “paz” não é o único benefício a ser alcançado, pois o escritor completa dizendo que o filho disciplinado pelos pais “trará grande prazer à sua alma”. A palavra hebraica usada para se referir ao “grande prazer” também é utilizada no Antigo Testamento para se referir aos “manjares” (Gn 49.20) de uma mesa prazerosa. Assim, é como se dissesse que, apesar de a correção do filho ser como roer um osso duro, o resultado futuro é uma sobremesa deliciosa que faz valer a pena todo esforço empregado. Acho que é exatamente assim que se sentem os pais do meu colega ao vê-lo bem encaminhado na vida e longe do rumo que ceifou a vida dos rapazes com quem ele insistia em andar na juventude. É certo que não faltou nesses pais vontade de desistir do ensino nos momentos mais difíceis, mas eles não desistiram e perseveraram por causa do amor que tinham pelo filho. E você: vai desistir ou vai perseverar? Quanto você ama seu filho?