“Levantem-se! Postemo-nos para a guerra contra Edom!” (Obadias 1c)
Esse é o trecho final do primeiro versículo do livro. Obadias, a “mensageiro enviado às nações”, cita, nesse ponto, a ordem de Deus às nações contida na “visão” que recebeu. Tal comando diz “levantam-se”. Trata-se da mesma ordem dada a Jonas para que fosse a Nínive transmitir a proclamação divina contra aquela grande cidade (Jn 1.2; 3.2). A diferença é que, nesse caso, a ordem aponta para as nações, não para conduzir uma mensagem, mas para portar a espada, indo à “guerra contra Edom”. De fato, algumas guerras foram feitas contra aquele povo, dando-lhe fim à existência. As nações que tiveram parte na destruição dos edomitas incluíram os nabateus, os judeus (sob o reinado de João Hircano) e os romanos,[1] de modo que as predições de Deus contra os edomitas se cumpriram exatamente como ele determinou nesse livro profético. Isso significa que Deus é o dono das guerras ou — como as Escrituras o nomeiam — é o Senhor dos exércitos (1Sm 17.45), de modo que ele, em seu domínio soberano da história, usa até mesmo as nações que não o temem para promover seus propósitos. Exemplo de uma atuação semelhante de Deus foi sua determinação e anúncio de usar outras nações para abater a Babilônia e libertar seu povo do cativeiro (Jr 50.9; 51.27-29). Assim, a soberania do Senhor nas Escrituras é algo indiscutível e todas as profecias já cumpridas conforme o mandado e a revelação prévia de Deus provam isso de modo indubitável e enfático.
Em meio a tal determinação, chama a atenção o segundo verbo depois do comando inicial. O que traduzimos aqui como “levantem-se” seguido por “postemo-nos” é uma construção adequada para transmitir a ideia presente no texto que, se traduzido literalmente, diz “levantem-se e permaneçamos de pé” ou “levantem-se e permaneçamos levantados”. Trata-se do mesmo verbo utilizado duas vezes, em formas verbais distintas, de modo a se completarem e enfatizarem a permanência sequencial requerida na ordem de Deus. É a figura de um exército que, ouvindo seu comandante, entra em formação e permanece desse modo. Ainda que o tempo passe e as condições recrudesçam, o exército continua na mesma posição, postado contra o inimigo, cumprindo as ordens superiores. Por um lado, essa figura expressa a confiabilidade das promessas de Deus, pois, assim como ele determinou e revelou que faria, usando as nações para abater Edom, isso realmente aconteceria, independente de passar o tempo ou mudarem as condições políticas. Por outro lado, demonstra que ninguém pode fugir das determinações do Senhor — como bem descobriu Jonas a duras penas. Deus sempre cumpre suas palavras independente do tempo que ele leve para tanto e a despeito da teimosia e rebelião das pessoas. Todos permanecem no mesmo lugar em que o Senhor os colocou, segundo os planos divinos.
Este pode ser um trecho bem pequeno da Bíblia, mas quanto ensino ele possui! Ainda que não façamos parte dos exércitos que destruiriam Edom — isso já se cumpriu dois milênios atrás —, somos integrantes da humanidade sobre a qual Deus é soberano e sobre quem ele permanece o Senhor dos exércitos. Por isso, ainda que não compreendamos totalmente seu modo de agir e quais são seus propósitos em cada circunstância específica, sabemos que ele continua no comando não apenas do seu povo, mas de todas as nações. Ele é Deus soberano, de modo que podemos manter viva nossa confiança em seu cuidado, amor e sabedoria, além de manter firme nossa esperança de que o final da história será exatamente como ele revelou. Outra importante lição é que, a exemplo de um exército, devemos permanecer em nossos postos para os quais fomos arregimentados. Em nossas responsabilidades cristãs também devemos nos levantar e permanecer de pé, perseverando apesar do tempo, das dificuldades e do cansaço. Se Tiago fala sobre a validade e utilidade da perseverança, em meio às provas (Tg 1.2-4), o apóstolo Paulo deve ser um exemplo para nós nesse campo, pois, preso em Roma e já próximo do final da sua carreira, sabendo que poderia ser condenado à morte a qualquer instante, persevera em sua missão, dizendo: “Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.13b-14). Segundo diz, enquanto lhe restasse fôlego de vida, permaneceria cumprindo sua missão, firme em seu posto, fortalecido pela esperança e certeza do futuro. Você, também, tem permanecido e perseverado naquilo para o qual Jesus o chamou? Continua de pé para cumprir sua missão cristã?