“O pobre que se torna poderoso e oprime os pobres é como a tempestade súbita que destrói toda a plantação” (Pv 28.3).
A história da humanidade é marcada por governos totalitários e opressivos, desde os impérios do passado até as monarquias do período colonialista. Contudo, a partir da Revolução Francesa, muitos países passaram por revoltas e golpes populares que colocaram no poder pessoas da burguesia destituída de nobreza e até do proletariado comum. A partir daí, o mundo tomou nova forma. Nas últimas décadas, um número muito grande de governos populares, ou seja, de líderes que vieram das esferas mais simples da sociedade, encontraram espaço na política mundial. Contudo, assim como os opressores antigos, os governos populares também se mostraram falhos, corruptos e exploradores da população, com o agravante de que esses governantes, que eram a esperança dos oprimidos, sabem, por experiência própria, o que é sofrer e, mesmo assim, mantêm o sofrimento popular.
Esse problema não é tão novo como os governos populares. Por isso, Salomão tem algo especial a dizer para “o pobre que se torna poderoso”. Não quer dizer, necessariamente, que ele se torna um governante, mas alguém com poder suficiente para alterar o rumo da vida de outras pessoas, seja para melhor ou para pior. Algumas maneiras de isso acontecer são pela obtenção de recursos financeiros que antes não se tinha ou pela promoção a cargos que detenham alguma influência e poder. Era de se esperar que, conhecendo as dificuldades dos seus pares, tal homem fosse generoso e minimizasse os sofrimentos de quem ele pudesse, ainda que modestamente. Mesmo sabendo que isso ocorre ocasionalmente, parece que o mais comum é que, em vez de ajudar, tal pessoa “oprime os pobres”. Uma das razões para tanto é o orgulho que ele sente ao subir na vida, passando a se achar melhor que os outros e não vendo razão para não desprezá-los. Outra é um tipo de revanchismo contra o que sofreu no passado, sentindo-se de certo modo vingado ao ver outros nas mesmas dificuldades que ele passou.
Independente de que tipo de motivação tenham esses novos ricos e poderosos para oprimir pessoas despossuídas e indefesas, o fato é que essa atitude é uma traição dupla, em primeiro lugar, por ser um completo desamor por outras pessoas e, em segundo, por faltar empatia por pessoas que sofrem algo que eles conhecem bem. Por isso, o escritor compara essa situação a uma “tempestade súbita que destrói toda a plantação”. A ideia é que a chuva, tão esperada para trazer bênçãos na produção agrícola, algumas vezes faz o oposto e destrói em vez de nutrir e multiplicar. Do mesmo modo ocorre quando aquele que obtém recursos ou influência deixa de socorrer quem precisa dele. A lição é que não podemos ser egoístas nem pensar apenas em nós, quando sabemos o quanto é ruim se sentir frágil, indefeso e incapaz. Ainda que não seja possível abraçar o mundo, é preciso ter empatia especialmente por quem passa por problemas que já passamos, os quais podem ser de qualquer natureza. Afinal, do mesmo modo que a vida pode elevar alguém, pode também derrubar.