“A bênção dada aos gritos cedo de manhã, como maldição é recebida” (Pv 27.14).
Certa vez, em uma clínica missionária, eu estava trabalhando ao lado de outro dentista quando ouvi sua conversa com o paciente. Enquanto o anestesiava, ele começou a contar sobre uma cirurgia que fez na faculdade, na qual tudo deu errado. A história era interessante e engraçada, mas ocorreu no momento errado. O paciente estava sendo anestesiado para passar por uma cirurgia de extração dental. Não seria nada muito complicado, mas diante daquela conversa, o paciente ficou nervoso e começou a passar mal. Quando olhei para ele, sua cor tinha quase desaparecido. Ele começou a se sentir mole e teve náuseas. O procedimento foi cancelado e ele teve de ser levado para casa.
O que deu errado nessa ocasião? O dentista era habilitado; o procedimento estava correto; a história era interessante. Mas o dentista escolheu a hora errada de juntar tudo isso. Se não faltou competência na técnica cirúrgica, faltou-lhe tato no contato com o paciente, já que, mesmo um procedimento cirúrgico simples para um profissional é um momento tenso para o paciente. A conclusão é que até os melhores assuntos devem ser omitidos em momentos inconvenientes. Pensando nisso, Salomão fala de uma “bênção” que uma pessoa rende a outra, o que, normalmente, seria algo muito bom. Entretanto, ele especifica um modo pelo qual ela se torna inconveniente dizendo que é “dada aos gritos”. Esse não é o modo correto de falar coisas abençoadoras aos outros, pois gritos irritam até as pessoas mais calmas. Para piorar, ele ainda diz que isso é feito no momento errado, sendo proferida “cedo de manhã”, ou seja, quando quem ouve ainda está dormindo ou sonolento, não estando apto a dar a devida atenção a algo tão importante.
Apesar de o provérbio falar de um caso específico, a lição é mais ampla, abrangendo uma gama de circunstâncias diferentes. O que há de comum entre elas é que todas são ocorrências de “coisas certas” feitas no “tempo” e do “modo” errados. O motivador de algo tão inconveniente assim é a falta de tato, o qual só pode ser desenvolvido a partir da sabedoria. Por isso, a conclusão lógica é que o tolo consegue falar ou fazer coisas boas e torná-las um desastre simplesmente por desconsiderar o tempo e o modo apropriados. Não é surpresa que o mesmo autor tenha escrito em outro livro que “há uma hora certa e também uma maneira certa de agir para cada situação” (Ec 8.6a). Ele insiste nesse assunto porque deve ter visto muitos exemplos de homens tolos dizendo a coisa certa do modo errado e no pior momento possível. Qual é seu conselho, então? É analisar cada situação para saber como agir de modo conveniente, visto que também afirma que “o coração sábio saberá a hora e a maneira certa de agir” (Ec 8.5b). Por isso, mesmo que você tenha algo muito interessante para falar ou fazer, pense muito bem e se contenha. Afinal, você não quer ser um tolo que torna o bem em mal!