“Seja sábio, meu filho, e traga alegria ao meu coração; poderei então responder a quem me desprezar” (Pv 27.11).
Certa vez, quando eu estava no 1º ano do Ensino Fundamental, vi uma cena curiosa enquanto esperava por minha mãe próximo ao portão da escola. A funcionária que cuidava do portão, que, por alguma razão, estava muito nervosa naquele dia, sofreu um esbarrão involuntário de um pai e quase caiu. Tudo não passou de um simples acidente sem qualquer consequência. Normalmente, as pessoas riem de situações assim, mas aquela funcionária começou a reclamar muito enquanto o pai não dizia nada. Ele apenas explicou que veio buscar o filho que era do 2º ano. Quando a funcionária ouviu isso, disse em tom de ironia: “Só podia ser mesmo. Nessa classe só o Paulinho tem educação. O resto não presta. Qual deles é seu filho?”. O pai, em vez de retrucar, simplesmente disse: “O Paulinho. Eu sou pai do Paulinho”. A funcionária não falou nem mais uma palavra. Apenas foi buscar o menino e se despediu dele com mil sorrisos.
Não é preciso dizer como esse pai ficou feliz ao saber da boa fama do filho na escola — além de se sentir vindicado diante dos ataques duros que recebeu. Na verdade, a relação entre as atitudes sábias dos filhos e a alegria dos pais é tão forte que esse provérbio é a reprodução das palavras de Salomão ao próprio filho, dizendo: “Seja sábio, meu filho, e traga alegria ao meu coração”. Não é possível ler essa orientação sem se lembrar do provérbio que diz que “o filho sábio dá alegria ao pai” (Pv 10.1b). A diferença é que, em vez de fazer uma afirmação fruto da observação acurada, nesse caso Salomão dá um comando, ordenando que o filho seja, de fato, sábio. Essa relação de causa e efeito mostra que, apesar da crescente independência dos filhos em relação aos seus pais à medida que crescem, os pais sempre permanecem profundamente ligados a eles a ponto de sofrer com erros que os filhos possam cometer e também de se alegrar intensamente com cada conquista, acerto e boa ação.
Se as ações dos filhos se refletem de modo interior e pessoal nos pais, ao que tudo indica também os afeta de modo exterior e visível. A verdade é que os malfeitos dos filhos mancham diretamente o nome dos pais e não apenas sua consciência. Do mesmo modo, as vitórias dos filhos se tornam a vitória dos pais, pelo que o escritor justifica o pedido no início do provérbio dizendo: “Poderei então responder a quem me desprezar”. O que ele quis dizer é que a boa fama do filho seria uma ferramenta para defender seu próprio caráter quando acusado de ser algo como tolo ou incompetente. Para provar o contrário, ele poderia apresentar o caráter bem construído e educado do filho para contrariar tais ofensas. Desse modo, o beneficio da sabedoria familiar é cíclico, pois o ensino sábio dos pais produz filhos sábios, os quais, ao agirem com sabedoria, beneficiam o bom nome dos seus progenitores. No final, ou isso se torna uma escada rumo à honra ou um buraco cujo fundo é a vergonha e a infâmia. Qual dos dois destinos você profere? Se preferir a honra, valorize, então, a todo instante a sabedoria, o respeito, o aprendizado e, principalmente, a Palavra de Deus.