“Que outros façam elogios a você, não a sua própria boca; outras pessoas, não os seus próprios lábios” (Pv 27.2).
Um amigo me contou algo que ocorreu quando ele tentava contratar um novo supervisor para sua fábrica. Entrevistando um candidato, ele ficou surpreso com o número de páginas do seu curriculum vitae. Segundo constava, ele tinha experiência em várias áreas e era um tipo raro de especialista. Perguntado sobre suas qualidades, ele falou maravilhas de si. Porém, assim que o candidato saiu da sala, meu amigo ligou para três empresas que tinham empregado o rapaz. Questionados sobre ele, a resposta foi a mesma: “É um incompetente e um preguiçoso”. É claro que meu amigo preferiu dar ouvidos aos antigos empregadores a acreditar no próprio candidato. Afinal, concluiu ele, “propaganda de si mesmo não vale”.
Para evitar papelões como esse, Salomão tem um conselho muito bom: “Que outros façam elogios a você, não a sua própria boca”. Ele toca mais uma vez na sensível questão do orgulho, abordando uma vertente que é compartilhada pela vaidade. O desejo de ser admirado pelos outros não é um problema de pequeno calibre. Basta ver nos meios de comunicação como muita gente age de modo absurdo e louco em busca de reconhecimento e de fama. Assistir a entrevistas de artistas e atletas é uma ótima oportunidade de ver pessoas falando bem de si mesmas enquanto menosprezam outras. O problema é que a Bíblia diz — e quase todo mundo sabe — que o elogio ou louvor que realmente têm valor e que não são simples propaganda pessoal são aqueles feitos por “outras pessoas, não os seus próprios lábios”. Ao dizer isso, o escritor leva em conta nossa tendência de fazer avaliação pessoal distorcida que enaltece os pontos fortes ao passo que ignora os defeitos — esse critério curiosamente se inverte quando se avaliam outras pessoas, é claro.
Por isso, o rei sábio se preocupa em tornar evidente que esse tipo de atitude é uma característica marcante do homem tolo — deve-se lembrar que, em Provérbios, o tolo não é alguém simplesmente ingênuo e teimoso, mas alguém que rejeita Deus e o seu ensino. Assim, o orgulho consegue dominar o insensato e fazê-lo olhar para si como uma pessoa melhor que as outras, além de torná-lo seu próprio marqueteiro. O servo de Deus, que é aperfeiçoado pela sabedoria bíblica, aprende a ser humilde e a assumir uma postura modesta — não a falsa modéstia do orgulhoso, mas com sinceridade, porque sabe que tudo que é se deve à graça de Deus atuando em sua vida. A ironia, em sua versão positiva, é que ele, ao ser humilde e fugir de louvar-se a si mesmo, fatalmente receberá elogios dos outros, pois as pessoas ao redor verão um caráter transformado que de fato é admirável. Para comprovar a sabedoria e humildade dessa atitude, quando o servo de Deus é elogiado, imediatamente transfere a Deus a responsabilidade pelo que fez em sua vida, dirigindo-lhe todo o louvor. Você é assim?