“Quem faz uma cova, nela cairá; se alguém rola uma pedra, esta rolará de volta sobre ele” (pV 26.27).
Viajando de avião, ouvi certa vez a conversa de dois amigos que estavam sentados ao meu lado. Segundo um deles contou, ele dirigia um grupo comercial em certa cidade. Tudo ia bem até que seu auxiliar, desejoso de ocupar seu cargo, começou a sabotar as ações do grupo — coisa que quem contava a história só veio a descobrir mais tarde. O plano do sabotador era fazer que os maus resultados financeiros fizessem o diretor do grupo ser demitido para que ele fosse promovido. Isso aconteceu durante alguns meses, até que a empresa sentiu necessidade de tomar providências. Chamando toda a diretoria, em vez de demitir o diretor, extinguiu o grupo, pois vinha dando prejuízos havia muito tempo. Assim, o sabotador, pensando que prejudicava apenas o seu rival, prejudicou a sim mesmo, pois também ficou desempregado.
Salomão fala de casos como esse de modo bastante curioso. Assim como em outros casos, ele se vale de uma comparação que ilustra de modo vívido a lição que pretende transmitir. A diferença desse caso é que o escritor lança mão da comparação sem nomear a lição em si de modo claro. Nesse caso, duas ilustrações irmãs são responsáveis por transmitir a sabedoria pretendida, porém, sem muitas dificuldades. Assim, ele diz que “quem faz uma cova, nela cairá”. Essa é a figura de uma caçada, na qual o caçador abre um buraco para que sua presa caia dentro dele. Segundo diz Salomão, ao preparar a armadilha para a presa, o caçador corre o risco de cair nela. A segunda ilustração diz que “se alguém rola uma pedra, esta rolará de volta sobre ele”. A mesma relação de causa e efeito é exposta aqui, na qual alguém que arma uma pedra para rolar sobre outros, seja uma presa animal ou um exército inimigo, corre o risco de ser atingido pelo próprio ardil enquanto o prepara.
Em si, essas lições são verdadeiras e completas. Mas Salomão não está preocupado em ensinar técnicas de caça e de embustes militares. Seu objetivo é falar das consequências negativas que recaem sobre aqueles que pretendem prejudicar os outros. A implicação é tão clara que não é preciso enunciá-la abertamente. Quem lê esse texto é alertado imediatamente de que, caso queira prejudicar outra pessoa, seja por inveja, mágoa, egoísmo ou pura maldade, corre o risco de ver seus intentos perversos serem revertidos sobre ele mesmo. Isso lembra um dito popular que ensina que “a vingança parece doce, mas custa a vida da abelha”. O mesmo vale para nós, pois, ao engendrar tramoias contra outros, podemos nos tornar alvos dela, seja pelo intento ser desmascarado ou por produzir efeitos colaterais que não podemos prever. O melhor mesmo é obedecer a Deus e seguir o exemplo de Cristo, que “quando insultado, não revidava; quando sofria, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga com justiça” (1Pe 2.23). Aprenda essa lição enquanto há tempo.