“Como uma camada de esmalte sobre um vaso de barro, os lábios amistosos podem ocultar um coração mau. Quem odeia, disfarça as suas intenções com os lábios, mas no coração abriga a falsidade. Embora a sua conversa seja mansa, não acredite nele, pois o seu coração está cheio de maldade. Ele pode fingir e esconder o seu ódio, mas a sua maldade será exposta em público” (Pv 26.23-26).
Certa vez, fiquei muito chocado com algo que vi. Uma senhora me procurou para falar mal de outra. Era incrível ver como ela estava alterada pelos sentimentos negativos que havia abrigado em relação à pessoa de quem ela falava coisas terríveis. Eu estava prestes a encerrar essa conversa quando chegou justamente a mulher que era o alvo de todas essas críticas. Pensei que uma briga ia começar na minha frente, já que a senhora que falava comigo demonstrava muita ira. Contudo, o inacreditável aconteceu. A senhora maledicente abriu um enorme sorriso e abraçou a outra, falando carinhosamente e chamando-a de “querida”. Acho que nem na televisão eu jamais havia visto uma transformação tão brusca assim.
É óbvio que os sorrisos e os elogios feitos pela senhora maledicente à outra eram pura falsidade — e, para dizer a verdade, era também falta de vergonha na cara, pois ela sabia as coisas que eu tinha acabado de ouvir. É por isso que Salomão avisou que “os lábios amistosos podem ocultar um coração mau”. Segundo ele, os sorrisos e elogios podem agir “como uma camada de esmalte sobre um vaso de barro”, a qual esconde o barro feio e mostra apenas cores brilhantes. Não é normal nem correto agir assim. Na verdade, segundo o escritor, apenas “quem odeia disfarça as suas intenções com os lábios”, fazendo para esconder o fato de que seu “coração abriga a falsidade”. O amigo verdadeiro jamais faria isso, pois nunca guardaria mágoas por causa do perdão que dá ao amigo, nem tampouco lhe seria falso ao dizer uma coisa enquanto pensa outra. Já o inimigo guarda seus sentimentos por trás de uma capa bonita de delicadeza para derramá-los no momento em que achar adequado.
Por isso, o conselho que o rei sábio tem a dar aos seus leitores no trato com quem guarda rancor é que, “embora a sua conversa seja mansa, não acredite nele, pois o seu coração está cheio de maldade”. É claro que alguém pode dizer que o rancoroso, ao esconder seu ódio, não faz mal a ninguém, mas o reprime como realmente se deve fazer. O problema é que, normalmente, quem guarda rancor, guarda-o para lançá-lo sobre suas vítimas quando puder lhes causar o maior mal, pelo que o escritor avisa que “ele pode fingir e esconder o seu ódio, mas a sua maldade será exposta em público”. Ou seja, mais cedo ou mais tarde ele irá atacar. A implicação para os leitores é que eles não devem julgar as pessoas rápido demais por causa de um sorriso ou de palavras gentis, pois podem ser apenas uma roupagem que esconde intenções destruidoras. Os servos de Deus devem confiar inteiramente no seu Senhor e nos seus ensinos, mas devem sempre se precaver com os homens, especialmente com aqueles que rejeitam a fé em Cristo. Até plantas carnívoras são bonitas antes de fecharem suas garras.