“Não se associe com quem vive de mau humor, nem ande em companhia de quem facilmente se ira; do contrário você acabará imitando essa conduta e cairá em armadilha mortal” (Pv 22.24,25).
O grande maestro Toscanini era tão conhecido por seu temperamento feroz como por sua musicalidade excepcional. Quando os membros de sua orquestra tocavam mal, era comum ele pegar alguma coisa que tivesse diante de sua vista e atirá-la ao chão. Durante um ensaio, uma nota malcolocada fez com que o gênio agarrasse seu valioso relógio e o esmagasse completamente. Pouco tempo depois, ele recebeu de seus músicos uma caixa forrada com um veludo luxuoso contendo dois relógios, um de ouro e outro bem barato no qual estava escrito: “Apenas para os ensaios”.
É sempre complicado conviver com pessoas mal-humoradas e nervosas. Mas pior que isso é se tornar uma delas. Pensando nisso, Salomão aconselha seu leitor para que “não se associe com quem vive de mau humor”. O texto hebraico mostra que ele está pensando em gente que é mais que carrancuda, a saber, um grupo que pode ser classificado como “possuidor de ira”. Isso fica mais claro quando ele completa instruindo seu ouvinte a que não “ande em companhia de quem facilmente se ira”. Uma das razões para um conselho sábio como esse é muita clara: evitar ser alvo da raiva desses homens iracundos. Quem já conviveu com gente assim sabe como seu humor é instável e como situações agradáveis se tornam verdadeiras tormentas em um simples piscar de olhos. E, para dizer a verdade, nem sempre é possível definir até onde vão tais explosões de raiva — os noticiários policiais que o digam!
Mas Salomão tem outro perigo em mente. Ele não quer apenas que o sábio evite ser alvo do homem nervoso. Seu real temor é que a associação por convivência o torne uma pessoa cujo caráter foi profundamente afetado a ponto de ele mesmo ser um possuidor de ira. Por isso, o sábio deve ouvi-lo, “do contrário”, diz ele, “você acabará imitando essa conduta”. Se imitar as pessoas nervosas já é em si ruim, pior são os acontecimentos posteriores. O escritor parece saber que, apesar de muita gente compartilhar dessa fraqueza, a sociedade não está muito disposta a relevar atos explosivos e destrutivos — e nem Deus. O alerta final diz que quem age assim “cairá em armadilha mortal”, seja nas mãos da justiça, seja por um ato punitivo de Deus ou até por uma vingança de quem foi alvo daquele que se ira facilmente. Portanto, não seja assim, nem ande com gente assim. Quem brinca com fogo sempre acaba queimado.