“Ninguém consegue se firmar mediante a impiedade, e não se pode desarraigar o justo” (Pv 12.3).
Filmes modernos têm feito a população comum conhecer um pouco da vida do submundo do crime. Filmes nacionais acabaram imortalizados ao expor o lado obscuro do crescimento da criminalidade e da ascensão de bandidos perigosos e temidos. Apesar de revelarem um lado pseudoglamouroso da vida do crime, quase ninguém é encorajado a seguir os passos das personalidades dentre a bandidagem. A razão disso é que, quase sempre, a derrocada de tais criminosos é retratada antes do desfecho final.
Salomão não era roteirista de cinema, mas conhecia bem o que ocorria a pessoas cujo sucesso se baseava na “impiedade”. Apesar de reconhecer que é possível alguém se levantar por meios ilícitos e injustos, ele observou que não havia durabilidade em tais conquistas. A própria história de Israel iria mostrar, nos séculos seguintes, que homens que se tornavam reis matando o monarca anterior acabaram por ser alvo do golpe de outros aspirantes ao trono. A justiça retribuidora de Deus é outro fator frequentemente enfatizado pelo escritor como razão pela qual o sucesso dos ímpios tem data de validade. Por fim, ele pinta um quadro em que a tolice pode ser vista no fato de alguém se contentar com um pouco de sucesso e prazer que não tem probabilidades de perdurar por longo tempo, nem resistir à ação da justiça, seja dos homens ou diretamente de Deus. Dizer “viva pouco, mas viva feliz” é uma frase na boca do insensato.
Por outro lado, os homens “justos” têm outra perspectiva de vida. É nítido, ao longo do livro, o conhecimento de que eles, muitas vezes, sofrem com as injustiças dos ímpios. Sejam eles alvos da maldade alheia ou da honestidade própria — já que se recusam a tomar atalhos tortuosos que lhes evitem sofrimentos —, o texto diz que os tais não podem ser “desarraigados”, ou seja, não podem ter suas raízes arrancadas. Como uma árvore de raízes fortes que sofre com um tornado, eles permanecem depois da tormenta. O texto não diz diretamente, mas é negável que o próprio Deus é a razão de eles serem protegidos e fortalecidos, além de terem seu futuro garantido nas mãos do seu redentor. Esses sábios servos do Senhor não dizem, como os primeiros, que é melhor viver intensamente por um breve período. Eles olham para as aflições presentes e, cheios de esperança, dizem: “Isso tudo um dia vai passar... Um dia estarei com meu Senhor”.