“Quem faz o bem aos outros, a si mesmo o faz; o homem cruel causa o seu próprio mal. O ímpio recebe salários enganosos, mas quem semeia a retidão colhe segura recompensa” (Pv 11.17,18).
Certa vez, um jovem que guardava rancor de outra pessoa e que abrigava um sentimento vingativo foi chamado por seu pai até o quintal da casa. Lá, o pai pendurou uma camisa branca no varal e disse ao rapazinho que imaginasse ser a pessoa com quem ele estava zangado. Deu-lhe também um saco de carvão e orientou o moço a atirar contra aquela camisa como se estivesse atingindo a pessoa odiada. O jovem, deixando-se levar por essa sugestão, lançou pedaços de carvão na camisa com toda a sua força. Alguns pedaços atingiam o tecido e outros não, mas a peça de roupa ficou suja de carvão. O rapaz até se sentiu melhor com isso. Mas qual foi sua surpresa quando o pai pediu que ele olhasse para si mesmo: ele estava muito mais sujo que a camisa no varal. Então, o pai explicou ao filho que a vingança poderia até atingir a outra parte, mas que o maior prejuízo seria para ele mesmo.
Salomão conhecia os efeitos do bem e do mal sobre aquele que as pratica. Por isso, incentiva seus leitores a agir bem em relação aos outros, não apenas para que o benefício alheio seja um bom resultado, mas para que o próprio benefício encontre lugar nessa ação. Ele não explica que ações são essas, nem como elas podem beneficiar a própria pessoa que as faz, mas ele tem certeza de que quem atua é abençoado pelas próprias ações. Essa não é razão principal que deve motivar a prática do bem, mas sim um amor verdadeiro: “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Mt 22.39b). Entretanto, a ideia de fazer o mesmo bem que se quer receber — a chamada “regra áurea” ou “regra de ouro” — confere essa dimensão de se colher o bom resultado das boas ações: “Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam” (Mt 7.12a).
Por outro lado, também há uma colheita dos atos maldosos e cruéis. Assim como a história do rapaz vingativo e do carvão, as pessoas que se detêm no caminho da maldade e que têm prazer em prejudicar os outros acabam por receber sua merecida recompensa. Por isso, Paulo também alerta seus leitores da Galácia: “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá” (Gl 6.7). Apesar de Paulo se referir à salvação eterna, Salomão ensina algo semelhante em termos da vida atual e dos resultados de trazer sofrimento a outros. Por fim, só há um modo de se obter benefícios consistentes e duradouros: trabalhar amorosa e pacientemente para que o mesmo aconteça na vida das pessoas ao redor.