“Meu filho, se você serviu de fiador do seu próximo, se, com um aperto de mãos, empenhou-se por um estranho e caiu na armadilha das palavras que você mesmo disse, está prisioneiro do que falou. Então, meu filho, uma vez que você caiu nas mãos do seu próximo, vá e humilhe-se; insista, incomode o seu próximo! Não se entregue ao sono, não procure descansar. Livre-se como a gazela se livra do caçador, como a ave do laço que a pode prender” (Pv 6.1-5).
Li um relato em que um homem foi chamado a um banco por um amigo. Chegando lá, descobriu que era para ser fiador em um empréstimo. Ele, obviamente, sentiu-se emboscado e, por essa razão, também bravo. Afinal, ser fiador significa se comprometer totalmente com os pagamentos sem se beneficiar em absolutamente nada. Mas tratava-se de um amigo ao qual ele não queria simplesmente responder um não. Então, ele olhou o contrato do banco e se disse horrorizado com os juros cobrados pela instituição financeira. Assim, diante do amigo e do gerente do banco, ele ofereceu o mesmo empréstimo ao amigo sem qualquer cobrança de juros, desde que o banco fosse fiador dessa operação financeira. O banco teve de revelar sua hipocrisia por se negar a fazer o mesmo que exigia de tão bom grado dos outros e o amigo entendeu que estava abusando da amizade.
Essa história deveria ser ouvida por muita gente hoje em dia. Porém, bem antes de ela existir, Salomão ensinou o mesmo, dizendo que, “se você serviu de fiador do seu próximo, se, com um aperto de mãos, empenhou-se por um estranho e caiu na armadilha das palavras que você mesmo disse, está prisioneiro do que falou”. Isso significa que é muito sério ser fiador de outros, algo que abrange consequências que vão muito além da simples boa vontade de facilitar um negócio ou uma papelada para um amigo. Isso também quer dizer que avalizar outra pessoa sem levar em conta os riscos, sem suspeitar que algo possa dar errado e sem ouvir instruções como essa é pura tolice, ainda que bem intencionada. Por fim, esse trecho bíblico ensina que não é possível escapar da responsabilidade assumida ao ser um fiador dando simples explicações como “eu achei que ele ia pagar direitinho”, ou “eu jamais imaginei que fosse ter algum problema com isso”, ou ainda “eu só quis ajudar um amigo”. A verdade é que, independente da explicação que se dê, o credor levará a cobrança adiante até que o tolo pague pela dívida que não contraiu em benefício próprio.
O mesmo escritor ensina seus leitores a ser sábios não assumindo esse tipo de compromisso (Pv 11.15; 17.18; 22.26,27). Mas, e quem já se comprometeu? A esses, ele diz que, “uma vez que você caiu nas mãos do seu próximo, vá e humilhe-se; insista, incomode o seu próximo!”. O significado disso é que aquele que insensatamente se colocou na posição de fiador de outra pessoa, deve buscá-la para desfazer tal compromisso enquanto é tempo, ou seja, enquanto a dívida não foi cobrada dele. Para tanto, é preciso ser honesto e explicar as razões àquele que foi por ele avalizado, o qual deve acolher com brandura o pedido de extinção da fiança em vez de forçar o outro a ser seu fiador. É claro que Salomão não quer que as pessoas deixem de ser bondosas, mas ele também não quer que tal bondade seja algo forçado e não voluntário. Assim, sabendo de todas as coisas que envolvem uma situação como essa e de tudo que pode dar errado, tanto na parte financeira do acordo como no relacionamento pessoal entre os amigos, o escritor cobra empenho do fiador para sair desse compromisso, dizendo: “Não se entregue ao sono, não procure descansar. Livre-se como a gazela se livra do caçador, como a ave do laço que a pode prender”. A melhor hora de colocar uma blusa é antes de o frio chegar; o melhor momento para carregar um guarda-chuva é antes de chover; e a melhor ocasião para se livrar dos laços das dívidas alheias é antes que elas sejam transferidas para o fiador.