“Afaste da sua boca as palavras perversas; fique longe dos seus lábios a maldade” (Pv 4.24).
Em Grão Mogol, no Norte de Minas Gerais, uma senhora me convidou para experimentar o doce de mocotó que ela fazia, o qual ela jurava ser uma delícia. Minha filha gosta demais desse doce, mas eu, sinceramente, não achei a menor graça nele. O problema, entretanto, foi que, ao chegar em casa, minhas mãos começaram a inchar, minhas costas ficaram vermelhas e meus braços coçavam como se pulgas ou formigas os estivessem mordendo. Tive de tomar urgentemente uma injeção de antialérgico. Isso aconteceu novamente um ano depois, quando comi outra receita à base de mocotó. A partir de então, nunca mais ingeri nada parecido. Minha regra, agora, é: “Mocotó não se aproxima mais da minha boca”.
Quem dera apenas alimentos fizessem mal à nossa boca e ao nosso corpo! Salomão conhecia outro ingrediente que pode contaminar e causar reações negativas naqueles que não se protegem dele. Por isso, ele diz ao seu leitor: “Afaste da sua boca as palavras perversas”. A diferença entre a perversidade e os alimentos venenosos é a fonte deles, pois, enquanto o veneno é algo que se leva para dentro da boca, a maldade vem de dentro do homem, pelo que Jesus alerta que “o que entra pela boca não torna o homem ‘impuro’; mas o que sai de sua boca, isto o torna ‘impuro’” (Mt 15.11). Sendo assim, trata-se de um perigo mais difícil de evitar, já que ele está sempre junto ao homem, em seu próprio coração, de modo que Jesus também diz que “as coisas que saem da boca vêm do coração — e são essas que tornam o homem ‘impuro’. Pois do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias” (Mt 15.18,19).
Sendo assim, uma pergunta válida é: “Como ficar longe de algo que me acompanha por onde quer que eu vá?”. Para saber não apenas como responder a essa pergunta, mas também como o servo de Deus deve agir, basta notar que a ordem bíblica é “fique longe dos seus lábios a maldade”. Não é uma ordem de o homem deixar de ser pecador — o que não é possível nessa vida —, mas de não deixar que a imperfeição que ainda o acompanha venha a florescer e encontrar espaço nas coisas que ele fala, pelo que a ordem é manter a perversidade “longe dos seus lábios”. Assim, o exercício que o crente deve fazer é suprimir o mal que ainda o habita, impedindo que venha à tona ou que o domine naquilo que pensa, sente, faz e diz. Por isso, cuidado com as coisas que você alimenta em seu coração, pois ou você as controla ou elas o controlarão. Para saber quem está vencendo essa batalha, basta observar se é você que domina sua boca ou se é a maldade quem o faz. E assim como o veneno que entra pela boca contamina todo o corpo, aquilo que você diz também terá reflexos em toda a sua vida. Crie para você uma nova regra: “Maldade não se aproxima mais da minha boca”.