“Quanto lhe for possível, não deixe de fazer o bem a quem dele precisa. Não diga ao seu próximo: ‘Volte amanhã, e eu lhe darei algo’, se pode ajudá-lo hoje” (Pv 3.27,28).
Quem nunca ficou encantado com a beleza da Sonata ao luar, de Beethoven? É uma interpretação musical magistral da glória indescritível de uma noite enluarada. Essa bela música foi criada porque o compositor queria dar algo de si mesmo e de seu talento para uma moça cega. Ela não podia ver as belezas de uma noite enluarada. Não podia ver o brilho prateado do luar em árvores, arbustos e gramados; não podia ver o reflexo reluzente cobrindo um lago; não podia ver a luz branca e suave atravessando o céu. Assim, Ludwig van Beethoven (1770-1827) colocou seu gênio para trabalhar. Ele queria transmitir a ela não apenas em palavras, mas em sons, a beleza que seus olhos não podiam ver. Como resultado, o mundo foi enriquecido. Ele deu o melhor de seu talento em um ato altruísta de bondade.
A carência daquela moça é apenas um pequeno exemplo das grandes e variadas necessidades que os homens e mulheres de todos os lugares têm. Pensando nas carências das pessoas e no papel do sábio servo de Deus diante disso, Salomão ensina: “Quanto lhe for possível, não deixe de fazer o bem a quem dele precisa”. Esse é um encorajamento no sentido de tomar as necessidades alheias sobre si e ajudar a saná-las. A tradução desse trecho a partir do hebraico também dá margem à ideia de não faltar com o bem “a quem de direito”, o que pode ser uma referência ao trabalhador que espera seu salário. Porém, a condição “quanto lhe for possível” favorece a interpretação que coloca pessoas que têm necessidade de auxílio como foco da ação do sábio. Sendo assim, uma exigência de Deus é que seus servos sejam seus representantes, não apenas na pregação das verdades espirituais expostas na Bíblia, mas também na promoção do bem e na concessão da sua graça e cuidado às pessoas.
É claro que as necessidades ao nosso redor são tantas que não é possível sanar todas. Mas o escritor não está dizendo que o servo de Deus deve resolver os problemas do mundo, mas aqueles que estão ao seu alcance e que se enquadram na condição “quanto lhe for possível”. Entretanto, Salomão se preocupa não apenas com a necessidade, mas também com o tempo, pelo que diz: “Não diga ao seu próximo: ‘Volte amanhã, e eu lhe darei algo’, se pode ajudá-lo hoje”. Quem precisa, precisa logo e o escritor chama a atenção para isso. Ele mais uma vez demonstra saber que nem sempre é possível cumprir tal agenda, mas também ensina que ela não pode ser negligenciada se o servo de Deus “pode ajudá-lo hoje”. Por isso, esteja atento às necessidades das pessoas — que não são apenas financeiras — e lembre-se do privilégio e responsabilidade dados por Deus a nós como mediadores da sua bondade no mundo, dispondo-se a arcar com o custo disso. Essa disposição glorifica ao Senhor e edifica vidas ao redor, mas sua negligência ofende aquele que deu a vida do seu filho para a nossa salvação. Afinal, “quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado” (Tg 4.17).