“Quem aumenta sua riqueza com juros exorbitantes ajunta para algum outro, que será bondoso com os pobres” (Pv 28.8).
O site da revista Veja publicou em 14 de janeiro de 2014 que um chinês, que estava em coma desde agosto de 2013, havia acordado depois de uma tentativa inusitada por parte dos médicos. O paciente, Xiao Li, de trinta anos, havia perdido a consciência depois de passar quase uma semana sem dormir, navegando pela Internet em busca de uma ideia de negócio. Médicos de um hospital de Shenzen passaram meses tentando tirar Li do coma, até que familiares do paciente disseram que o que ele mais amava na vida era dinheiro. Assim, o médico Liu Tang decidiu tentar algo inovador. Orientou as enfermeiras a colocar uma nota de 100 iuanes, a moeda chinesa, perto do nariz do paciente. Aos poucos, Xiao Li começou a retomar a consciência até que acordou definitivamente.
A ganância é um problema tão sério quanto antigo. Por isso, Salomão não poderia deixar de abordar o tema em seus provérbios. Apesar de a ganância poder assumir muitas formas na experiência humana diária, ele se vale de uma situação específica na qual fala de alguém que “aumenta sua riqueza com juros exorbitantes”. Em nossa sociedade, em que uma das bases da economia são a aplicação e o empréstimo a juros, essa afirmação pode parecer estranha. Mas Israel tinha restrições a essa prática, já que a lei proibia a cobrança de juros sobre o dinheiro ou bens emprestados a outros israelitas (Êx 22.25). Assim, ninguém podia enriquecer em cima de apertos financeiros dos outros, nem lhes impor maiores opressões. Ao contrário, os empréstimos serviam para ajudar um companheiro em apuros (Lv 25.35-38). Por isso, não havia espaço para aquele tipo de ganância que pisa o irmão para poder subir.
Apesar de haver regulações legais em Israel sobre isso, Salomão não parece achar que essa questão dependia inteiramente do judiciário dos seus dias. Na verdade, ele faz uma afirmação ousada dizendo que aquele tipo de ganancioso “ajunta para algum outro, que será bondoso com os pobres”. Esse nível de convicção não vem de quem conhece o sistema legal, mas de quem conhece o Deus justo e bom, o qual pune a injustiça e socorre o oprimido. Significa que o apego a bens e a confiança neles se fundamentam em coisas transitórias, que não podem garantir o futuro do homem e podem lhe fugir de uma hora para outra sem que ele possa impedir. A verdade é que a melhor fonte de segurança é o próprio Deus e que, para andar com ele, não se podem prejudicar os outros por amor ao dinheiro, lançando mão de métodos financeiros abusivos, mesmo que legais. Melhor é socorrer os irmãos necessitados e contar com o socorro amoroso de Deus, coisa que dinheiro nenhum garante — nem aqui, nem na China.