“O rancor é cruel e a fúria é destrutiva, mas quem consegue suportar a inveja?” (Pv 27.4).
Nos dias das cruzadas, Ricardo, da Inglaterra, e Filipe, da França, foram para a batalha como aliados. Quando os dois homens estavam sob fogo na Terra Santa, ficou evidente que Ricardo era o mais valente dos dois. Os cruzados o apelidaram de Ricardo de “coração de leão”. Quando se tornou claro que os cruzados consideravam Ricardo seu chefe, Filipe ficou com inveja. Movido pelo ciúme, ele se opôs às estratégias de Ricardo. Finalmente, ele se tornou hostil, retirou-se da Palestina num acesso de raiva e se apressou a voltar para a França. Mais tarde, Filipe, traiçoeiramente, invadiu o território de Ricardo. Que tragédia!
O tolo é mais uma vez descrito por meio dos sentimentos negativos que abriga em seu coração. Assim, Salomão deixa subentendidos os atos decorrentes dos sentimentos, já que qualquer pessoa que tenha vivido um pouco já se deparou com eles. Ele diz que “o rancor é cruel”, querendo descrever a atitude destituída de misericórdia daquele que guarda mágoa de outras pessoas. Seu “rancor”, quando externado, causa dor e sofrimento sem medidas enquanto produz alegria na pessoa “cruel”. O próximo sentimento é descrito com as palavras “a fúria é destrutiva”, o que mostra que a ira é mais um traço do tolo que causa destruição nas pessoas a quem seu ódio é dirigido. É mais um sentimento que arde sob o fogo das emoções ruins e pecaminosas que é revertido em atitudes e ações terríveis. Quem, em sã consciência, menosprezaria os danos que o “rancor” e a “fúria” podem causar?
Entretanto, o escritor ainda tem um sentimento a alistar que ele considera o pior de todos. Tendo falado do sofrimento causado por sentimentos de cólera, ele completa perguntando “quem consegue suportar a inveja?”. Dizer isso produz a nítida compreensão no leitor de que a “inveja” é muito pior que o “rancor” e a “fúria” juntos, assim como seus resultados. A razão parece ser que o invejoso abarca também os sentimentos ditos na primeira cláusula, além de ser movido por uma motivação muito mais severa. A cobiça, que é a lenha que faz a “inveja” queimar, é um pecado que alavanca outros, sendo uma marca do ímpio que ama tanto o mundo que despreza Deus, razão pela qual o salmista diz que “ele se gaba de sua própria cobiça e, em sua ganância, amaldiçoa e insulta o Senhor” (Sl 10.3). Alguém que ama tanto o mundo a ponto de ignorar Deus pode fazer coisas terríveis às pessoas a quem inveja. Por isso, em primeiro lugar, se afaste dos invejosos que amam demais os bens e o mundo. Em segundo, faça morrer em você qualquer inveja assim que começar, sendo grato a Deus pelo que ele lhe dá agora e pelo que ainda dará no futuro.