“Como o louco que atira brasas e flechas mortais, assim é o homem que engana o seu próximo e diz: ‘Eu estava só brincando!’” (Pv 26.18,19).
Quando eu tinha cerca de quatro anos de idade, simplesmente desapareci dos olhos dos meus avós, os quais estavam cuidando de mim em sua casa. Minha avó entrou em pânico. Ela me procurou na casa de todos os vizinhos e até no mercado da rua ao lado. Meu avô me procurou por todo o pasto que ficava próximo da casa e pelo matagal adjacente. Quando eles perderam as esperanças de me encontrar, concluindo que eu fora levado por alguém que passou pela rua, saí de trás da cortina do quarto rindo e gritando: “Eu estou aqui!”. Acho que meus avós ficaram mais velhos nesse dia por causa da minha brincadeira de mau gosto.
Eu não fui disciplinado por causa do que fiz, mas estou certo de que merecia — eles provavelmente levaram em conta a inconsequência característica dessa idade. Infelizmente, há muita gente grande que age como pequenos meninos nesse sentido. Salomão expõe gente assim como “o homem que engana o seu próximo e diz ‘eu estava só brincando!’”. Essa é a descrição de pessoas que agem como tolos, causando mal deliberado a outros, e que, quando interpeladas por causa do que fizeram, respondem que se tratava apenas de uma brincadeira inocente. Não fica totalmente claro o quadro que envolve essa atitude. A primeira possibilidade é que se trate de pessoas inconsequentes que fazem brincadeiras de mau gosto sem atinar para o dano que causam nas pessoas. Isso faria jus ao termo “louco” que aparece na primeira cláusula do provérbio. Porém, Salomão parece se interessar mais por denunciar e reprovar as ações dos tolos que dos loucos.
Assim, a segunda e mais provável possibilidade é que se trate daquelas pessoas que agem mal, que prejudicam outras pessoas e que, quando interrogadas ou repreendidas, evitam reconhecer seus atos e assumir sua culpa, inventando explicações falsas de que eram ações inocentes que não pretendiam causar nenhum mal. A criatividade de gente assim é muito fértil, de modo que não lhes faltam desculpas para explicar o inexplicável. Mas a verdade é que, lançando mão desse expediente desonesto, age-se “como o louco que atira brasas e flechas mortais”, o qual o faz sabendo do risco que produz, mas sem se importar com as consequências. Entretanto, nem toda a criatividade do mundo é capaz de inventar uma desculpa após a outra de modo coerente. Portanto, fique atento às inconsistências das justificativas vãs dos tolos para o mal que fazem aos outros e mantenha distância de gente assim. Só alguém mais tolo ainda ficaria perto de quem atira flechas para o alto.