“O preguiçoso diz: ‘Lá está um leão no caminho, um leão feroz rugindo nas ruas!’. Como a porta gira em suas dobradiças, assim o preguiçoso se revira em sua cama. O preguiçoso coloca a mão no prato, mas acha difícil demais levá-la de volta à boca. O preguiçoso considera-se mais sábio do que sete homens que respondem com bom senso” (Pv 26.13-16).
Meu primeiro ano de faculdade foi marcado pela presença de certo aluno na classe que não queria fazer o menor esforço no que tangia aos estudos. Minha impressão é que a única coisa que o interessava na vida acadêmica eram as festas que ele frequentava. A dificuldade surgia quando ele se aproximava de mim durante as aulas, as quais ficavam praticamente perdidas porque ele simplesmente não me deixava prestar atenção em nada. Enquanto eu estudava em casa, ele bebia pelas ruas e se divertia. Ele achava que essa era a melhor vida do mundo, até que o primeiro ano terminou e ele foi reprovado. Sem dar seguimento ao curso, foi levado pelos pais de volta para sua cidade. Nos anos seguintes foi mais fácil prestar atenção nas aulas.
A verdade é que todos nós conhecemos alguém que pode ser qualificado como “preguiçoso” e conhecemos suas características mais marcantes. A primeira delas é que, tendo de trabalhar ou se esforçar em algo, ele arruma todas as desculpas que pode para fugir dos deveres, como dizer que “lá está um leão no caminho, um leão feroz rugindo nas ruas”. Seja essa uma desculpa esfarrapada ou o modo como ele vê o trabalho — como se fosse um predador feroz —, a verdade é que ele faz e diz tudo que for preciso para fugir de ter de se dedicar a algo. Em vez disso, ele prefere descansar — é impressionante como vivem cansados aqueles que nada fazem! Por isso, Salomão fala que “a porta gira em suas dobradiças” para ilustrar a ocupação do indolente, dizendo que “assim o preguiçoso se revira em sua cama”. A comparação com a porta serve para dizer que seus dias são passados com ele virando de um lado para o outro no seu lugar de repouso, como uma porta sobre a dobradiça.
O problema é que, com o passar do tempo, a preguiça tem um alto custo, pois impede a pessoa acomodada de cumprir seus deveres e prover seu sustento. Durante algum tempo é possível depender de outros ou fazer acordos transitórios que lhe garantam alguma paz. Mas depois de certo período, nenhuma lábia é capaz de impedir os danos da irresponsabilidade. Para ilustrar essa triste verdade, Salomão diz que “o preguiçoso coloca a mão no prato, mas acha difícil demais levá-la de volta à boca”, querendo dizer que ele desperdiça todas as oportunidades que tem de se manter bem por causa da sua repulsa pelo trabalho e pelo esforço. E a pior parte disso tudo é que, mesmo sendo um tolo incorrigível, ele pensa que encontrou a fórmula da felicidade, pelo que se diz que “o preguiçoso considera-se mais sábio do que sete homens que respondem com bom senso” — pelo menos até o sofrimento lhe tirar essa falsa impressão. Portanto, quando você sentir preguiça de cumprir seus deveres, cumpra-os assim mesmo. Isso se chama responsabilidade e sabedoria.