“O sábio conquista a cidade dos valentes e derruba a fortaleza em que eles confiam” (Pv 21.22).
Uma das ocupações das lideranças militares de um país é prever todo tipo de ocorrências em que as forças armadas tenham de intervir. Simulações de guerra devem ser feitas para que todas as táticas sejam pensadas e repensadas muitas vezes — esses são os famosos jogos de guerra. Um dos primeiros passos é definir prioridades de ataque e de defesa em casos de embate militar. Uma invasão pode ser feita de muitas formas, mas os alvos prioritários são sempre os mesmos: a cúpula do governo, fontes de energia, bases de armamentos e suprimentos e estrutura de telecomunicações. Sem os pontos principais de apoio de um governo e de suas forças armadas, metade da guerra está definida.
Salomão não foi um homem de guerra como seu pai, pois viveu em dias de paz. Mesmo assim, ele sabia muito bem como vencer um inimigo poderoso, pelo que ensina que “o sábio conquista a cidade dos valentes”. A sabedoria aqui não está ligada a fazer ou não fazer uma guerra. O texto pressupõe uma guerra já declarada. Nesse contexto, ele diz que o sábio não age seguindo meros impulsos e planos irrefletidos, mas sim de acordo com uma estratégia bem traçada que visa a atingir a fonte de sustentação do poderio inimigo. Assim, em uma guerra, o sábio “derruba a fortaleza em que” seus inimigos “confiam”. Esse é um modo de dizer que ele atinge o problema bem no meio em vez de rodear resultados periféricos. Ele desmantela a sustentação dos seus oponentes de modo cabal, sem ignorar sua existência ou racionalizar seu perigo. Mas será que esse provérbio visava a ser lido apenas por comandantes militares? Parece que não.
A intenção do escritor parece ser ensinar seus leitores em geral em que lugar eles devem atacar seus problemas e suas tentações. Para ele, de nada valem meias-medidas quando se luta contra o poder das trevas e do pecado. A melhor defesa para os servos de Deus, em casos assim, é um ataque à fonte do poder dos seus inimigos. Sobre isso, Paulo diz que “as armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas. Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo” (2Co 10.4,5). Esse texto ensina que a diferença, em nosso caso, é que, enquanto líderes militares contam com sua experiência militar, com seus armamentos e com a destreza de seus soldados, os servos de Deus dependem das armas e do poder do seu Senhor para vencer o mal. Por isso, o sábio é aquele que confia e obedece ao seu Deus na luta que somente ele pode vencer por nós.