“Ouça conselhos e aceite instruções, e acabará sendo sábio” (Pv 19.20).

Existe uma forma de surdez conhecida por médicos em que a pessoa afetada é capaz de ouvir tudo, menos palavras. Em tal caso, o ouvido, como um aparelho de mera audição, pode ser tão perfeito que o tique-taque de um relógio ou o canto de um pássaro podem ser percebidos e apreciados. Mas, devido a uma lesão local no próprio cérebro, todas as palavras ditas em sua língua materna são tão ininteligíveis para o doente quanto as de uma língua estrangeira. Dê-lhe um livro e ele pode ser lido com toda compreensão, mas cada palavra dirigida a ele através de seu ouvido o atinge apenas como um som, não como uma palavra.

Infelizmente, os tolos sofrem de um tipo curioso dessa surdez. Eles entendem muito bem as palavras e seus significados. O único tipo de discurso que eles ignoram são conselhos e instruções. Para esse tipo de palavra, eles são surdos, pois acreditam saber tudo que é necessário. Na verdade, seus ouvidos as escutam e distinguem bem, mas seu coração está completamente fechado para elas — o que realmente os torna tolos. Para deixar tal condição, Salomão recomenda o seguinte: “Ouça conselhos e aceite instruções”. Essa não é a primeira exortação que se faz sobre aceitar conselhos e instruções (Pv 2.1; 4.10; 10.8). Mas é uma que, de modo simples, aponta o resultado prático de ter os ouvidos e o coração abertos para o ensino, dizendo que, quem age assim, “acabará sendo sábio” no fim das contas.

A ênfase sobre o período futuro pode transmitir duas ideias. A primeira é que a sabedoria não é algo que se obtém com uma simples conversa, mas ao longo de um processo extenso e demorado, o qual, ainda assim, vale a pena. A segunda é que o período final da nossa vida deve nos encontrar com as qualificações de um sábio. Isso não significa necessariamente ser altamente diplomado, mas alguém que, ao longo da vida, aprendeu tudo que pode, ouvindo todos os conselhos e evitando o mal. Por isso, duas coisas são muito necessárias: humildade, para saber ouvir e mudar de direção; e paciência, para continuar em uma jornada que é longa, difícil e que enfrenta muitos percalços. No final das contas, é algo parecido ao caminho do homem íntegro descrito em Jó: “O seu começo parecerá modesto, mas o seu futuro será de grande prosperidade” (Jó 8.7).